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24-06-2023        A Tarde [BR]

Pergunta nada retórica. Muito pelo contrário. A arte, conceitualmente, é definida como a objetivação da subjetividade humana em suas mais distintas formas (literatura, música, dança, pintura, escultura, teatro e cinema). Sem negligenciar as manifestações sociais que projetam a preocupação com o futuro no agora. Isto porque, em consonância com Ai WeiWei - artivista e exilado chinês - a arte não tem futuro se não ingressar na Vida. E a vida, sob os auspícios de um sistema que busca irracionalmente transformar seres humanos em coisas, não é propriamente o que podemos entender como Vida.

Assim, frente as incertezas advindas da crise estrutural (leia-se econômica, energética e ecológica) e suas drásticas sequelas na condição humana, acredito que a expressão artística seja o caminho mais promissor para finalmente desnudar as formas de dominação e exclusão social que alimentam a barbárie diária. Atento, não obstante, que para transformar a realidade existente (ou a sua falsa representação?), essa mesma arte não deve limitar-se a exprimir situações existentes, mas criar circunstâncias novas e favoráveis para realizar outro mundo possível.

O problema, todavia, consiste em não confundir a política do espetáculo com o espetáculo da política, pois “no espetáculo, onde a economia transforma o mundo em mundo da economia, realiza-se o princípio do fetichismo da mercadoria. E a mercadoria logra a ocupação total da vida social” (Guy Debord em “A sociedade do espetáculo”). Como então superar esse obstáculo em tempos de promoção do individualismo exacerbado e indiferença com relação à ação política emancipatória?

Uma resposta verossímel encontra-se na arte manifesta por Ai WeiWei. Como podemos constatar na obra “Sementes de Girassol” - exposta pela primeira vez em Londres, no Tate Modern, museu de arte moderna, o artivista chinês procura interpretar o presente através da leitura crítica do passado e, deste modo, constituir os pilares que irão sustentar o futuro e garantir o desenvolvimento humano no Planeta.

Trata-se de uma alegoria composta por 100 milhões de sementes de girassol que são lançadas de cima até a composição de uma forma cônica de aproximadamente cinco metros de diâmetro. Cada semente representa um ser independente que ao juntar-se aos seus pares, levados pela força da natureza e moldados pelas intempéries, torna-se uma força descomunal e única. Aqui está o conceito básico e primordial da mudança.
Adquirir consciência dos nossos potenciais e inteligências diversas para apreender que sobre a terra e abaixo do céu somos todos feitos da mesma matéria.

Esse é o papel da arte: Alimentar a utopia!


 
 
pessoas
Antonio Carlos Silva



 
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