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29-04-2023        Jornal de Notícias

Estamos a viver os primeiros dias do 50.º ano do 25 de Abril. O 1.ºde Maio que evocaremos na próxima segunda-feira será o quinquagésimo após o golpe militar progressista dos capitães do Movimento das Forças Armadas (MFA). Por certo, os dias que mais influenciaram a transformação daquele golpe militar numa Revolução foram os que separam as duas datas, e a imensidão de portuguesas e portugueses na rua no dia 1 de maio de 1974.

Uma conjugação positiva de fatores ancorou aquele extraordinário passo. Havia um lastro de luta política, social e estudantil propiciadora de formação e capacidade de ação política, mas talvez seja de realçar: i) o conteúdo claro e progressista do Programa do MFA; ii) a atitude do povo português, que, intuindo o que estava ao seu dispor, passou à ação para sacudir o drama da guerra e a ausência de liberdade, e para abrir horizontes de mudança; iii) o contributo extraordinário dos trabalhadores e dos sindicatos anticorporativos, coordenados nas reuniões intersindicais, que vinham protagonizando um crescendo de lutas. O 1.º de Maio, ali tão perto, era o seu dia de festa e luta, de agir para transformar.

As comemorações institucionais e populares que vivemos na evocação do 49.o ano da Revolução, na passada terça-feira trouxeram-nos sinais de preocupação, mas também de esperança. A visita do presidente do Brasil contribuiu para a exposição de debilidades, mas também de capacidades e vontades de interpretação dos desafios que devemos assumir para defender a democracia e desenvolver o país.

Ficou claro que o quadro de profundas mudanças geopolíticas em curso obriga os portugueses a olharem o Mundo de forma mais plural, a trabalhar novos relacionamentos e cooperações. Esse será o caminho que pode valorizar a nossa posição na União Europeia e contribuir para que esta se reforce. Neste quadro, foi muito positiva a abordagem que o nosso presidente da República fez sobre temas como o colonialismo e as políticas migratórias.

No plano oposto tivemos o comportamento indecoroso e desrespeitador das instituições, assumido pela extrema-direita no Parlamento (AR). Enojou-nos, mas despertou-nos para expressões do fascismo e para a necessidade de os democratas não titubearem nas respostas a dar-lhe. Neste quadro, a posição do líder do PSD ao afirmar-se "contra os extremismos à direita e à esquerda", desgraçadamente, apenas alimenta polémicas estéreis e mantém a porta aberta ao Chega.

A maioria dos meios da Comunicação Social, ao desvirtuarem a informação e alimentarem a chafurdice política, como vêm fazendo, atentam contra o Estado de direito e a democracia e entram num jogo perigoso. As movimentações a que assistimos, dentro e junto à AR, não foram meras manifestações pontuais radicalizadas contra Lula da Silva ou contra o momento em que este foi à Assembleia da República. Foram, sim, sinais bem claros de atentado contra o legado do 25 de Abril. Tudo indica que viveremos, durante o ano que temos pela frente, uma ampliação destes comportamentos.

Não é verdade que todos tenham o seu 25 de Abril e que são tudo posições conciliáveis.

Há quem atue para o tornar menos consensual e mesmo quem o queira aniquilar. Para o defender, neste 1.º de Maio, reafirmemos o direito a melhores salários e condições de trabalho e a menores horários. E lutemos por uma divisão social e internacional do trabalho assente nos valores que ancoram a sua dignificação, nos avanços civilizacionais conquistados, na defesa das liberdades e da paz.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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25 de Abril    trabalho    1.º de maio