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28-03-2023        A Tarde [BR]

Há 78 anos, em 19 de outubro de 1945, George Orwell compartilhava suas apreensões e inseguranças a respeito da Nova Ordem Mundial em um célebre ensaio para o Tribune, a mais antiga publicação socialista democrática do Reino Unido: “Tu e a bomba atômica”.

A confirmação da hegemonia bélica norte-americana, expressa na destruição nuclear das cidades de Hiroshima e Nagasaki (em 06 e 08 de agosto, respectivamente) como retaliação à não rendição japonesa, fez com que o escritor inglês assumisse o papel do moderno Oráculo de Delfos e sibilasse aos quatro ventos que havíamos conquistado “indefinidamente uma paz que não é paz nenhuma”.

O Mundo, a partir de então, seria geopolicamente dividido entre as potências com capacidade técnica/financeira para construir armas de destruição maciça. Que, sob a égide da lógica monetária, utilizariam-nas apenas contra países que discordassem do modelo adotado - sob a rubrica da concorrência democrática, mas determinado pela oligarquia das armas.

Deste modo, o poder concentrado em um limitado grupo de nações (Orwell já apontava, para além dos Estados Unidos, a Rússia e a China como prováveis “superestados”) resultaria em uma permanente Guerra Fria, na qual todos os dissidentes seriam submetidos à escravidão moderna.

Para assegurar essa aparente paz perpétua - baseada no processo de comercialização e convivência dependentes da máquina capitalista - as nações possuídoras de arsenal atômico dividiriam a governação do Mundo em zonas de influência reguladas por Estados policiais capazes de minimizar os desequilíbrios na balança do poder. Assim, a constituição do estado de exceção perpétuo seria a consagração econômica de toda ação política, tendo na ameaça nuclear um aliado indispensável para “privar as classes e os povos explorados de toda a capacidade de revolta” (Orwell, 1945).

Com isso, a democracia desejada seria posta à prova existencial. Afinal, como realizar a igualdade se é o poder econômico que dita as regras para inovação tecnológica e científica atômica? A solução, como alerta Orwell, não é a democratização das armas, o que pode acelerar o Relógio do Apocalipse e aprofundar a humanidade no poço da barbárie (ver em https://thebulletin.org/2023/01/press-release-doomsday-clock-set-at-90-seconds-to-midnight/). Estamos a 90 segundos da meia-noite, do fim do século, do desvanecer da raça humana na Terra.

Contudo, há esperança. Com o despertar para o temor atômico, quiçá tenhámos a oportunidade de destituir a soberania dos estados policialescos e, por conseguinte, questionar a irracionalidade deste sistema economicamente centralizado na mãos de países ávidos pela hegemonia do poder (cada vez mais) sangrento: os Leviatãs pós-modernos.


 
 
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Antonio Carlos Silva



 
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