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11-03-2023        Jornal de Notícias

Os dados revelados esta semana, quer pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e pelo Ministro da Economia, quer pela DECO/PROTESTE confirmam, com dados muito concretos sobre preços no setor alimentar, aquilo que as portuguesas e portugueses sentem há muito tempo. O surto inflacionista está a atingir, de forma muito dura, as pessoas e famílias de mais baixos rendimentos agravando brutalmente a pobreza, e a generalidade dos trabalhadores e pensionistas vão ficando mais pobres, dado que as atualizações salariais e de pensões (os que delas beneficiam) ficam a léguas do valor da inflação. Mas, as maldades estendem-se a outros setores, como o financeiro.

Quando, por má gestão ou por negociatas fraudulentas os bancos entram em crise, os cidadãos pagam a fatura. Quando os cidadãos ficam prisioneiros de “crises” como acontece no presente, em que a guerra e a inflação “justificam” todos os sacrifícios, os bancos aproveitam para aumentar escandalosamente os seus lucros. Os dados publicados ontem, neste jornal, são elucidativos: “as seis maiores instituições financeiras a operar no país alcançaram, um resultado líquido superior a 2,5 mil milhões de euros” em 2022. Um aumento nos lucros “de quase 70%”, obtido à custa de altas taxas de juros, de comissões diversas, da não remuneração de depósitos e através de despedimentos.

No comércio a retalho, os portugueses são todos os dias roubados. Aos preços de produtos de primeira necessidade são impostas escandalosas margens de lucro. Segundo a ASAE “no retalho, registámos margens médias de lucro bruto, referentes ao ano de 2022, entre: 20% e 30% (açúcar branco, óleo alimentar, dourada); 30% e 40% (conservas de atum, azeite, couve-coração); 40% e 50% (ovos, laranja, cenoura, febras de porco); e mais de 50% (cebola)”. Este roubo prossegue em 2023. A denúncia, tardiamente assumida pelo governo, vai ter consequências e serão adotadas medidas que travem este escândalo?

O Presidente da República, na entrevista que concedeu à RTP e Público na noite de quinta feira, reconheceu haver, por parte de empresários de vários setores, “aproveitamento da conjuntura como oportunidade de negócio inaceitável”. Todavia, considerou que o combate à inflação apenas “depende da economia” e ele “espera” que “haja fatores que a façam descer”. Direi que se ficarmos à espera de solução por essa via, será melhor esperar sentados. Os parasitas vão sugar o povo até ao limite.

O Governo promete ser inflexível e o Ministro da Economia, num exercício de retórica, ameaçou recorrer a “medidas musculadas”. Há muito tempo que o governo conhece e devia combater esta ignóbil especulação. Agora, vamos assistir a discussões sobre os conceitos contabilísticos de “lucro bruto” e “lucro líquido”, designadamente nos poucos casos que chegarem a tribunal. E teremos setores empresarias a tentarem ganhar contrapartidas, em nome do pretenso esforço que terão de fazer para praticarem preços minimamente justos

O Parlamento já aprovou um diploma para tributar os lucros excessivos (que deixou o sector financeiro de fora). O governo tem de agir, de proteger preços de bens essenciais, de impor ação fiscalizadora em tempo útil e penalizações de forma a evitar que o crime compense, de proteger preços de bens essenciais. Mas, acima de tudo, deverá promover o aumento dos salários e assegurar atualização das pensões em conformidade com a inflação. 


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
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