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08-03-2023        A Tarde [BR]

Um segundo e se faz um círculo. Um minuto se ensaiam cantorias. Décadas revelam lutas em prol de existências femininas. A data serve para aproximar cuidado, trabalho e violências de gênero. 8 de março é um manifesto contra violações, mas sobretudo um grito pela igualdade, por direito às vidas, em pluralidade, distintos territórios, para além de classe, raça/etnia e sexualidades.
Individualmente foram mulheres quilombolas, indígenas, trabalhadoras, mães (muitas solo) que enfrentaram o sistema patriarcal, colonial e ultraviolento. Os feminicídios são pontas do “novelo” desse labirinto. A implementação de marcos legais sobre violência doméstico-familiar, intimidade, cyberbullying, punitividade relativos aos assassinatos de mulheres cis e trans, negras, jovens e idosas sinalizam não um dia. Sempre é tempo de alerta; infinita luta de/para mulheres.
Se o trabalho, condições de vida e cidadania atiçaram vozes no início do século XX; ao final, foram manifestações populares que ocuparam as ruas. Os movimentos feministas, sob a égide da interseccionalidade, tomaram contornos vívidos na determinação de pautas para compor constituições democráticas. No entanto, sem atingir a tão almejada igualdade.
A data não tem significado sem contextualização. Reunir exemplos empíricos de como lentes de gênero transformam teorias e práxis e embalam as experiências sociais são abordagens recorrentes feministas (Londa Schiebinger, 2020). O sufrágio não chegou para galgar oportunidades. Acesso às escolas e universidades não atendem (ainda) todas. Direitos reprodutivos e sexuais despertam polêmicas acirradas e, frequentemente, sofrem retroagem. O inacesso a políticas e serviços perpassa a realidade de campesinas e ribeirinhas, cuja atividade laboral continua a ser desqualificada. Em centros urbanos, exercem mesmas atividades, mas recebem salários inferiores aos homens, com defasagem maior para negras.
Se nas agendas tudo parece lento, artes e inserção de jovens feministas são sinais de expressões sociais. Exemplo é o Coro das Mulheres da Fábrica (Coimbra). “Operárias” resgatam na oralidade tempos e vozes que reverberam no presente, mesclando culturas, gerações e diversidades sob maestria de Vânia Couto. Em Salvador, Mestras do Saber rufa tambores e preserva o legado musical, com Monica Millet. Sob batuta de Doraney Alves, o Instituto Comunitário Princesa Anastácia convida para educação racial de crianças e adolescentes em São Caetano.
Anuncia McKenzie Wark (2021), a “mutação antropológica” já está em andamento e, cada segundo, um futuro possível se apresenta. Que a mutação seja em canto coral, com som de tambores, saraus poéticos que promovam uma educação racial, não sexista e misógina.


 



 
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