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21-02-2023        A Tarde [BR]

Novo ano, velhas guerras - intermitentes e globais. ONU Mulheres e UNDOC publicaram relatório dando alerta: cerca de 81 mil feminicídios registrados em esfera mundial; sendo 56% cometidos por parceiros ou familiares. Às vesperas do dia Internacional das Mulheres e Meninas nas Ciências (11/2), paradoxalmente vemos ranços e avanços. As violências são marcadores comuns para tal grupo. Se engenharias e ciências exatas abrem espaços, o relógio marca ritmo aterrorizador: mais de 5 mulheres e meninas foram mortas a cada hora no mundo em 2022.
Isso comprova que as casas não são “lugares seguros” e que políticas, instituições e grupos sociais devem estar em alerta quanto aos pedidos de socorro. Escolas, centros de saúde e as pessoas do cotidiano podem ser as chances de viver em um tempo histórico permeado pelo grotesco e no qual os dados indicam tão somente a ponta do iceberg.
A guerra real não é efetivamente combatida e as informações coletadas desnudam falhas no sistema de proteção e de promoção de direitos humanos. Segundo Sima Bahous (ONU), cada morte tem uma “história que falhou e seria evitável”. Desde 1960 temos informações e instrumentos que acompanham, monitorizam, expõem dados, defendem mudanças nas agendas e ações (incluindo o apagamento institucional e responsabilidades legais). Temer pela própria vida e viver sob violência na íntima esfera doméstico-familiar deveria ser classificada como tortura (Jules Falquet).
Interessante que, nesse mesmo tempo, comemoram-se os 115 de nascimento de Simone de Beauvoir (1908-1986), filósofa francesa, integrante do movimento existencialista e feminista de segunda onda que moveram os anos seguintes. Tanto em “O Segundo Sexo” quanto romances, especialmente “O sangue dos outros” (1945), dedicou sua escrita às  relações e violências sofridas por mulheres. Nessa última, tudo começa com o cadáver feminino entre guerras e o desejo de não morrer.
Abre o livro com epígrafe de Dostoiévski - “todos somos responsáveis por tudo perante todos” – e encerra com um potente diálogo conduzido por Blomart, uma personagem-chave: “não me deste a paz; mas porque havia eu de querer a paz?”. Às meninas e às mulheres, que cotidianamente vivem a ameaça de “guerra” interna, querer paz é desejar viver dignamente. Precisamos contar as mortas, dar-lhes memórias, compreender e desenvolver mecanismos de coibição e prevenção diante dos riscos. Ademais, invisibilizar é componente de justiça ineficaz.
40% das mortes não foram consideradas feminicídios por provas insuficientes. Territórios, classe, raça/etnia e identidade de gêneros apontam desigualdades brutais que são proporcionais aos regimes não democráticos e sob dominação patriarcal. Queremos paz!


 
 
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