O encerramento de ano letivo e a passagem para novo ciclo reflete os mais esperançosos vislumbres de planos para um futuro. No âmbito acadêmico, os primeiros meses são de pausa merecida para docentes, discentes, funcionários e trabalhadores que circulam em torno dessa atividade. Tempo sem relógio e agenda sobreposta. Entretanto, a cronologia e o cronometro não param. São intermitentes e seguem ritmo. Inclusive com convocatórias para eventos, publicações e manifestações (nas ruas e em prol do bem comum).
Cruzando leituras, experiências não rotineiras e acervos profissionais e pessoais que compõem minha trajetória como historiadora e educadora, dedico umas linhas às aprendizes do futuro (que ingressarão no ensino superior e aos que já estão). Formação e currículo são essenciais na etapa universitária, ética e práxis equitativamente no mesmo patamar. Em tempos de traços antidemocraticos, violentos e não éticos, ser estudante é uma decisão tremenda e relacional. Ser aprendiz e aprendente mais ainda.
Ler, escutar, vasculhar arquivos e acervos (aqueles que não houve tempo suficiente), assistir, organizar papeis e pastas integram a experiência de quem aposta em metodologias, epistemologias e ontologias. De ausências às presenças, de permanências às rupturas e reencontros, tomo de empréstimo as assertivas de Boaventura Santos salientando a necessidade de “tradução” de saberes e da “aposta” no futuro. E se este está logo ali, cada instante vale oportunidades de ser, conviver, aprender e realizar.
As ausências são autoevidentes. As presenças tem sido conclamadas e administradas por monstruosidades do Tempo Presente, de machismos, colonialismos, racismos e agendas pouco adeptas aos mais básicos pontos civilizatórios e estruturados a partir de “conhecimento prudente para vidas decentes“.
Em tempos sombrios foram atitudes que ganharam contornos reais. Irene Sendler (Alemanha, anos 40), Marta Zabaleta (Argentina/Chile, anos 60) e Chimamanda Adichie (Nigéria, anos 2000), em geografias e tempos distintos, fizeram elas os fios e os desafios de contar, compor e registrar. Não deixar “perigo de uma única história” apoderar-se. Tomaram outras ancestrais como referência.
A pluralidade de fontes e vozes, o cuidado e responsabilidade de produzir e praticar. Não se trata verdadeiramente de uma epistemologia, mas antes de um conjunto de epistemologias, por isso tentar incluir o máximo das experiências de conhecimentos do mundo. Intelectuais, docentes, aprendizes não entram em pausa. Só deixam um pouco as rotinas e os cronogramas mais apertados. Há urgências imediatas e necessidade de continuar a produzir, circular e realizar análises críticas contundentes. Transformar pelos saberes.