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02-12-2022        A Tarde [BR]

O que têm em comum Wendy Brown - filósofa norte-americana e professora da UC Berkeley – e Roswitha Scholz – líder do Grupo EXIT! e uma das principais expoentes da Teoria Crítica na Alemanha? Muitas afinidades. Dentre elas, a síndrome de Cassandra para interessados/as em compreender as contradições sociais do atual estágio da crise estrutural do capital.

Explicamos: a primeira, no instigante artigo “Cidadania sacrificial: neoliberalismo, capital humano e políticas de austeridade” (2018) elucida a metamorfose ocorrida nas pessoas com a vertente econômica liberal da vida social e política. De proletários (classe média nivelada) para capital humano (classe média pluralizada), como acentua Scholz em “O ser-se supérfluo e a angústia da classe média”, uma década antes.

A uniformização produtiva no fordismo, segue Brown, provocou uma proletarização das atividades e a crescente cientificação da produção. Aqui entendida como a moeda de troca para sobrevivência no sistema. Ao mesmo tempo que qualquer um pode se assumir em distintas personas - consumidores, trabalhadores, empreendedores - no teatro da competitividade global as pessoas reais, não fetichizadas, perdem a capacidade de interação na política ao serem alienadas da esfera pública.

Tal fetiche, continuo com Brown, além de funcionar como uma prisão para a vassalagem moderna, ofusca o ideal emancipatório para além do Estado e do Mercado. De acordo com Scholz isto ocorre porque a fetichização das classes “se expressa simultaneamente em hierarquizações orientadas para concorrência e nos correspondentes modos ideológicos de lidar com elas” (p. 12). Ou seja, do capital humano no cenário da 4ª. revolução industrial.
Se, consoante Brown, os desafios impostos pelas contradições do capital exigem o resgate da ação política e a compreensão de que o processo de fetichização acentua  violências e as desigualdades – “transformações da existência que não são administradas apenas pelo Estado, mas também por instituições bancárias e empresas transnacionais” (p. 58); Scholz acrescenta que novos estágios da crise irão realçar a precarização do trabalho e arrefecer, ainda mais, a essência dialética do capitalismo: a produção de mais-valia e a exclusão perpetrada contra a humanidade.

Essas Cassandras modernas, Brown e Scholz, se recusam a aceitar o mito do capital humano e inserção na classe média para depois serem descartadas como meras mercadorias. Insistem em alertar que sem uma crítica radical do sistema, estaremos fadados ao fracasso do eterno presente. Pior, se mantivermos os ouvidos moucos à História seremos sujeitos às falsas teses generalistas criadas para consagrar a economização da vida. O aviso, mais uma vez, está dado!


 
 
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Antonio Carlos Silva



 
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