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26-11-2022        Jornal de Notícias

Há sempre possibilidade de abrir caminhos à esperança, ao futuro. Os movimentos dos jovens contra as causas das alterações climáticas e ambientais provam-no. A politização da juventude é da máxima importância para atingir aquele objetivo. Os jovens irão descobrindo formas de lá chegar. Não poderão dispensar a memória, mas serão eles os construtores mais responsáveis: a vida abre-se-lhes por muito tempo. Aos mais velhos compete tentar ser jovens, ou seja, assumir o futuro como presente contínuo - onde as gerações todas se encontram - e darem um contributo prospetivo com humildade.

Parece-me muito positivo termos visto recentemente alguns milhares de jovens, em escolas secundárias e universidades, darem sinais de não quererem sucumbir à despolitização egoísta, nem ao consumismo desenfreado, nem à desesperança que lhes é incutida quando, num contexto de extraordinários avanços técnicos e científicos, lhes dizem que a Humanidade está condenada a viver sob as violências de "crises" sucessivas, a continuação do belicismo, a "cultura" do egoísmo e de ódios.

Dir-me-ão alguns mais velhos e até jovens mais politizados que naquelas ações se percecionaram contradições e fragilidades concetuais face ao significado do combate em causa. Talvez assim seja, todavia, eles desencadearam ação coletiva e, no seu discurso, expressaram uma aguda consciência sobre um problema fundamental: a catástrofe ecológica é produzida por um sistema tão injusto quanto predador e o discurso político está distante das políticas praticadas. Por outro lado, é nos anos de formação que se forjam convicções e compromissos de ação que ficam para o resto da vida.

O que vimos no comportamento de ministros, comentadores do mainstreaming e de diretores das escolas envolvidas (salvo raras exceções) foi uma atitude paternalista primária, pautada pela "compreensão" da atitude dos estudantes, desde que não perturbem muito. Essa também foi a marca da cimeira mundial que decorreu no Egito. Ora, o que se coloca como indispensável é mesmo a necessidade de, desde os mais jovens aos mais velhos, procurarmos formas de perturbar. A ação, de todos, tem de ser militante, organizada, persistente, determinadamente ofensiva, e não pode desligar-se do conjunto de fatores e dimensões mais marcantes da vida em sociedade.

A acompanhar o individualismo exacerbado e como forma de exponenciar o seu poder destrutivo há, na leitura dominante da sociedade, uma multiplicidade de causas que tendem a ser apresentadas com pouca ou nenhuma conexão entre si e, acima de tudo, distanciadas do elemento mais transversal ao conjunto dos seres humanos: o trabalho.

É muito importante que os jovens estejam despertando para essas causas específicas, situem-se elas no plano das liberdades e direitos de cidadania, das igualdades ou do ambiente e ecologia. E por mais que a pregação neoliberal insista em dizer que o trabalho foi substituído pelo "colaboracionismo", também acabarão por encontrar e impor, por certo com fortes perturbações, a ligação de todas as suas causas particulares com a centralidade do trabalho. Acabarão por fazer a luta comum pelo que é comum.

A construção de uma alternativa ecológica exigirá que se alterem os modos de produzir, os mecanismos de acumulação da riqueza, as cadeias de produção e de distribuição, as relações laborais que subjazem a todas essas mudanças, colocando o trabalho com direitos e o combate às precariedades no centro da ação.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
temas
individualismo    ecologia    juventude    coletivismo