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13-10-2022        A Tarde [BR]

O World Bank publicou, em 2002, suas expectativas políticas para o desenvolvimento no século XXI. Três grandes proposições - a globalização, o crescimento e a pobreza - foram abordados com o compromisso de alinhavar a economia mundial de forma inclusiva. Os Estados, em acordo, direcionaram sua governança para galvanizar o ideário progressista e a vitória da Democracia Liberal de Mercado.

O objetivo deste Annual Report (disponível em http://hdl.handle.net/10986/14051) era difundir o compromisso com a universalização de bens e direitos através de algumas recomendações. Destacamos a flexibilização jurídica, a expansão do microcrédito e os investimentos em infra-estrutura como recomendações para racionalização da economia frente às limitações da sociedade moderna.

O problema estava em lidar com a economia política que transformou-se em política econômica no correr do processo. Deste modo, comprometidos com o crescimento e a garantia da propriedade e do capital, os governos negligenciavam o clamor de 99% da sociedade restante (David Graeber). Não é exagero entender que a flexibilização jurídica ao mesmo tempo que atrai capital, não necessariamente produtivo, fomenta a desigualdade social e pode hipotecar o futuro das relações de trabalho, da biodiversidade e da produção de energias renováveis.

O microcrédito, sem a salvaguarda do Estado, indica uma armadilha àqueles/as postulantes ao sonho do empreendedorismo. Isto porque ao antecipar a rentabilidade futura, sem atentar para os riscos de instabilidade nas taxas de juros/preços, aprofunda o fosso entre os incluídos e os excluídos da economia mundial. Sem olvidar que, alerta Robert Kurz, “a globalização tira do poder do Estado os meios financeiros imprescindíveis para o próprio desenvolvimento da globalização” comprometendo a infra-estrutura (Perdedores Globais, 1997, p. 140).

Neste contexto, a política não consegue lidar com a economia e seus desdobramentos sociais tornando-se “um conceito historicamente limitado que pertence à história da implementação do moderno sistema produtor de mercadorias (...) convertendo os trabalhadores em sujeitos de relações contratuais e em sujeitos modernos” (Ibidem, p. 81).

A aposta do World Bank pelo universalismo resultou em normalização das contradições e uma negligente crítica social que, como pudemos comprovar em 2008, derivou na crise dos subprimes. Se a indignação persiste, continuamos em falta de uma nova crítica social para tentar compreender tais fenômenos. Afinal, parafraseando o filósofo Pedro Rocha de Oliveira, “o cuidado moderno com a política não tem a própria política por finalidade, mas a explorabilidade econômica” (2021). O resto, como diria o bardo, é silêncio.


 
 
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Antonio Carlos Silva



 
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