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16-09-2022        A Tarde [BR]

A reprodução da vida não depende da reprodução do capital. Essa afirmação contrapõe os cânones da economia política clássica que, baseada na utilização irracional de recursos fósseis e no trabalho assalariado, desvela a obsessão sistêmica em criar valor (sem substância) de forma ilimitada.

Dito isto, recordo-me de uma entrevista do saudoso historiador norte-americano, Howard Zinn (1922-2010), para o The Indypendent. Questionado sobre o modelo de industrialização adotado pelos Estados Unidos - e seletivamente exportado para os demais países do Globo, em especial os em desenvolvimento e dependentes de uma lógica competitiva determinada pelo processo de internacionalização -, Zinn foi enfático: “Nossa história nacional é de expansão econômica às custas do meio ambiente, exploração desenfreada e descontrolada de carvão, petróleo e madeira em prol do lucro corporativo. Isso significa que, se quisermos fazer algo sobre o aquecimento global, teremos que mudar drasticamente nossa política de desregulamentação, de fechar os olhos para o que as corporações fazem. Teremos que regular as indústrias que poluem” (2007).

Entretanto, isso exige compreender que não podemos depositar total confiança no Estado e suas instituições sem o exercício contínuo da fiscalização democrática. Nas palavras do cônsul Cícero: cum potestas in populo auctoritas in senatu sit. Ou seja, todo poder é delegado e pode ser restituído em uma autêntica República.

Para Zinn, neste contexto, são as pessoas comuns que promovem o debate e criam as condições históricas para efetuar mudanças. O ordenamento jurídico, resgatando o legado de Hannah Arendt, apenas confirma a atualização dos valores morais após a ação político-social em favor de interesses comunitários (por meio de boicotes, greves etc.). Para tanto, a força motriz da atividade econômica deve ser a necessidade humana e não o lucro corporativo.

O problema, todavia, consiste em acreditar que o sistema de produção social do capital pode ser regulado. Que a democracia liberal, sob os auspícios do capital, consegue se desvencilhar de seu propósito legitimador da segurança financeira das grandes corporações sem fronteiras. Afinal, não podemos esquecer que, desde os anos 1980, “o capital das empresas não integra mais o estoque nacional (...) Com isso altera-se também a orientação estratégica. A fidelidade à economia nacional vai por água abaixo” (Robert Kurz).

Entre a falha democrática e a falta de Desenvolvimento real, compartilho uma provocação especial para acompanharmos os debates eleitorais. Essa do grande Antônio Abujamra: “a vida não tem roteiro, na vida não existe nada seguro, quem gosta de abismos tem que ter asas”. Provoca Abu, provoca!


 
 
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Antonio Carlos Silva



 
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