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11-07-2022        A Tarde [BR]

Há poucos meses das eleições presidenciais, uma questão está em aberto: quais são os programas, projetos e planos que partidos e candidatos têm (ou pretendem apresentar) para realizar o desenvolvimento sustentável no Brasil? Desde o manisfesto programático de Celso Furtado (“O mito do Desenvolvimento”, 1974) ao “Desenvolvimento como Liberdade”, elaborado pelo Nobel Amartya Sem (1998), o conceito implica devaneios de gestão e fica no campo das promessas.

Indissociável do Progresso (evolução técnica, científica e econômica), o desenvolvimento - dizem os seus apologistas – assegura a fortuna (ou fatalidade?) para humanidade. Mas, também, desvela o embate entre a liberdade e a necessidade. O Mundo, que estava em harmonia com a Natureza, é aberto para incompreensão do infinito.

Neste Universo, o Estado nacional se apresenta em aporia. Gerenciar decisões dedicadas aos anseios da sociedade ou servir aos interesses do poder? Essas contradições são reavaliadas por Walter Benjamin em sutil crítica ao processo ilimitado de produção de capital (“O Capitalismo como religião”, 1921). Para o pensador alemão, o ideal burguês de transformação social - na qual se buscava evitar que as motivações privadas contaminassem a áurea política - foi suplantado pelo irracional desejo de enriquecimento a qualquer custo.
Portanto, a liberdade, como ação política, é inserida no reino da necessidade, no jogo de mercado e da troca. O público e o privado, dialeticamente separados nesta competição, subvertem as relações de poder. O patriarcalismo, presente no segundo, determina a condução do arcabouço político. Deste modo, o Estado passa a alienar uma expressiva parte da sociedade ao invés de garantir seu acesso às Políticas Públicas. Quais ações executivas propõem?

Em 2022, a sina por promessas (quando existem) continua a estabelecer os ritmos de campanha. Sem projetos, mas com muita oratória, após a vitória - nas urnas eletrônicas - será que as promessas serão lançadas aos ventos ou relegadas ao esquecimento?

Para os/as eleitores/as no Brasil, (re)ler Benjamin é imprescindível para compreender que, sob o processo de mercantilização de todos os aspectos da Vida. Os partidos são manifestas alegorias de necessidades materiais (nada secretas) e em acordo com ideais redentores da humanidade fetichista (no qual os indivíduos são mercadorias). Isto para alegria dos arautos do capital, que distorcem e falsificam essa fatalidade inevitável ao seu bel-prazer.

O nosso devir, diria Benjamin, será o eterno retorno se não for escovado a contrapelo. Enfim, para que tudo brilhe no clarão da plenitude, importa saber ao que servir, pois sempre serve melhor quem sabe (Czeslaw Milosz, 2004). Saber votar é o ponto.


 
 
pessoas
Antonio Carlos Silva



 
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democracia    Brasil    eleições