Em várias escalas as nuvens escuras adensam-se e na sua composição estão elementos pesados. Vemos isso no prosseguimento da guerra na Ucrânia e nas cortinas de fumo construídas a partir dela, que servem, nomeadamente, para esconder massacres sobre povos que lutam pela sobrevivência, como aconteceu em Melilla. Na Cimeira do G7 na Alemanha e na Cimeira da NATO em Madrid, a palavra paz foi utilizada apenas para ser classificada como uma cedência. Dizem-nos que é preciso assegurar a "nossa" vitória na guerra e aniquilar o inimigo antes de falar de paz. O sofrimento dos povos não conta. É exatamente a mesmo lógica que se identifica em Putin.
Em Madrid, a Organização do Tratado Atlântico Norte (NATO), estrutura militar de defesa somente no plano teórico, tornou-se mais instrumento dos Estados Unidos da América na sua luta pelo direito exclusivo a liderar o Mundo e a ser império. Por isso fizeram a expansão global da Aliança para todos os mares circundantes e interiores da Europa, para as fronteiras com a Ásia, para os oceanos Índico e Pacífico. Estes governantes do "Ocidente" e seus acólitos pensarão, como na Idade Média, que todos os outros povos são seres menores e estúpidos?
A existência de um inimigo devidamente catalogado é a argamassa da unidade dos países da Aliança, independentemente de terem regimes democráticos, autocráticos ou ditaduras. O entusiasmo patético de políticos medíocres, por já terem inimigo para poderem brincar às guerras, assusta. A China entra na calha para receber o qualificativo, não por ser uma ameaça militar, mas sim por ter força económica e política. Na luta interimperialista que hoje se vive é necessário afirmar os valores e as culturas das nossas sociedades, confrontá-los com os de outras, mas com respeito recíproco. Sem isso será o desastre.
Os governantes dos países economicamente mais poderosos, substituíram as respostas aos problemas económicos e sociais com que nos deparamos, pelo reforço da economia financeirizada e de guerra. As ajudas aos países pobres para melhorarem condições de vida dos povos e criarem emprego não existem. São substituídas por pagamento a poderes corruptos - de países de fronteira no Norte de África, do leste e sudeste da Europa, das Américas - para travarem os movimentos migratórios, reprimindo sem dó nem piedade. Os problemas do ambiente não têm resposta e regride-se nas condições para as transições energéticas.
A Cimeira dos Oceanos em Lisboa devia ser um acontecimento mundial de grande relevo, mas foi ignorada ou secundarizada pelos governos dos países que podiam influenciar as mudanças indispensáveis. Simultaneamente, o Fórum dos Governadores dos Bancos Centrais, realizado em Sintra, mostra-nos que, mais uma vez, lhes é entregue, erradamente, a missão de tratarem do combate à inflação. Os governos não assumem políticas sustentadas na economia real e focadas na resposta aos problemas das pessoas. Desenha-se a continuação de ajudas na compra de dívida pública, acompanhada de novos memorandos com exigência de desvalorização salarial (já em curso) e de contenção na despesa pública.
No plano nacional, ocorreu o episódio do temos, não temos, novo aeroporto na região de Lisboa. O Partido Socialista parece não conseguir tratar-se da bebedeira que apanhou com a maioria absoluta. A ação governativa vai dando sinais desse estado e a atração do primeiro-ministro por uma governação nos interstícios das manobras políticas internacionais não ajuda a resolver problemas. Curem-se rápido.