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31-05-2022        A Tarde [BR]

Na pandemia intermitente desde 2020, temores, renúncias e lutos estiveram presentes. Fizemos intervalo em projetos. Verbos essenciais inscritos nas intenções: ser, conviver, aprender e fazer. O campo musical nos ofereceu “manifestos” de presença. Traduzidos em palavras, em vídeos-clipes, em cantorias (de janela) ou em espaços reduzidos, no Windows, em teams e com muito zoom.

Histórica e socialmente as habilidades humanas são colocadas em cores, sons, sabores, emitindo baraka (“mensagem”) sobre potencial criativo, criador e circulador. Em filme de Ron Fricke (Baraka, 1992), as artes audiovisuais nos aproximam do belo, do fulcral, de motivos e sentidos do viver comum. A música embeleza a experiência. Nem sempre letras e imagens dão conta da revelação integral. São trinta anos do lançamento e, junto com Samsara (“mutações”, 2012), são masterpieces. Percorrem uma crítica ao atual estágio desigual, injusto e contrastante vivido.

Ouvir as canções-mensagens nas vozes de mulheres jovens e criativas artistas é mais que dádiva. Menciono Neila Kadhí e Suane Borges. A Bahia precisa mesmo descobrir suas gentes: a potente arte de soltar as vozes e mostrar a produção (integral). São outros modos de ver, sentir, pensar e ser. Com os pés no chão, reconhecendo territórios de gestação de artistas magníficas.

Abrimos alas, as cantoras-autoras querem encantar. São teimosas criaturas que vislumbram nas ações mais corriqueiras mensagens sobre experiências humanas. Em Massarandupió ou Salvador, as duas iniciaram cedo a trilha. Donas de palavras e timbres que acionam memórias e remexem nas samsaras e barakas feministas. Ambas passeiam pelas forças musicais nordestinas, serpenteando por toques de forró, samba, xotes, cantorias e ecos de outras tantas mulheres que circulam economias, cuidados e conexões entre narrativas individuais e coletivas, entre sentimentos e sensações (“Apetite”, by Neila Kadhí, 2022).

Aceitam desafios, abrem telas (fazendo do híbrido algo além do pensado) e atiçam memórias digitais e presenciais. Tomam microfones e se transformam. “Para todo um, tem outro” (NK, 2017) e compõem coletividade, além de anunciar futuro.

Somos sonhadoras e cantadoras. “Da minha janela” (SB, 2022), o que avistamos para o Presente-Futuro é o que decidirmos fazer, cantar e ser agora. Abrir espaços para “donas moças”, nascidas e criadas na Bahia (“sou daqui”, NK, 2018), é meta. Dai, a composição da tríade de artigos dedicados à juventude criativa: #querooutromundo, #queremosepodemosoutrosmundos e #elasencantam. Na letra direta, “tem lugar para todo mundo” e já não podemos “ignorar o rumo do rio” (SB, 2022). Nada como “um bocadinho” (NK, 2022) de esperança, de (en)cantos, de arranjos.


 
 
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