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23-01-2021        Jornal de Notícias

O novo presidente Norte-americano tomou posse. No comentário político dominante diz-se que entramos numa nova era da política americana, das relações dos EUA com a União Europeia (UE) e das relações transatlânticas. Sim, respiramos de alívio e estamos numa nova fase com mais esperança, contudo falar-se de uma nova era talvez seja exagerado. A sociedade norte-americana não ficou desarmadilhada de um dia para o outro, as dinâmicas geopolíticas e geoestratégicas à escala global serão influenciadas pelos realinhamentos desta grande potência, todavia, no essencial, o rumo que vem de trás prosseguirá.

A nova Administração vai ser tão nova quanto dizem? O mundo já estava em grande mudança nos mandatos de Obama que, consciente de uma “América” em perda, procurou gerir de forma positiva alguns dossiers, sem se coibir de intervir militar e politicamente onde não devia. Trump, deitou mão de um isolacionismo agressivo para esconder fragilidades, tratou da política como se fosse um negócio sem princípios e promoveu o negacionismo, afundando a credibilidade do país. Então, o que muda e o que não muda em função de quem ocupa a sala oval?

O discurso inaugural de Biden, escrito com minucia, diz-nos alguma coisa a esse respeito. Se a ele juntarmos posições da nova Administração que vão sendo conhecidas, é possível ir construindo um mapa mental do que nos reserva o mandato do novo Presidente. Encontramos vontade em combater a bipolarização daquela sociedade, mas é percetível o medo dos diabos que andam à solta. Ouvimos um empenhamento positivo em tratados e organizações multilaterais. Foram reafirmadas antigas alianças militares e o regresso à velha inimizade com a Rússia, que pouco tem a ver com ideologia. Estas mudanças podem considerar-se ruturas com a política externa de Trump. No entanto, juntando ao discurso o que se vai conhecendo por outras formas, verifica-se que a rivalidade com a China irá manter-se em todas as áreas em que está em disputa a liderança mundial. Em relação ao Médio-Oriente, parece prosseguir a complacência com a ocupação da Palestina, e o alinhamento com a Arábia Saudita não dá sinais de inflexão.

E quanto à União Europeia? O que significa a omissão de qualquer referência à UE no discurso inaugural? Significará que para a Administração Biden a nova União Europeia, sem o Reino Unido e mais alemã, se tornou mais rival que aliada?  No mapa prospetivo da ordem internacional que os EUA estão a desenhar para suster o declínio da sua hegemonia, o aliado UE será importante em certas áreas (até para malfeitorias como foi a invasão do Iraque), noutras descartá-la-ão.

Sejamos otimistas, mas não se criem ilusões persistindo em cenários que tomam qualquer mudança como o acontecimento miraculoso que vai fazer desaparecer os problemas e contradições que poem em causa o futuro da União Europeia.  

Perspetivam-se implicações para Portugal que podem vir a ser importantes. Num contexto de rivalidade económica e política entre as duas margens da NATO, com a margem anglo-saxónica reforçada pela adesão britânica, a estratégia de um pé em cada margem, que tem sido adotada em Portugal – também independentemente de quem é o inquilino em S. Bento – pode tornar-se tão difícil e dolorosa como é a espargata dos bailarinos.

Entretanto, não nos esqueçamos que amanhã é preciso VOTAR.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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