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16-01-2021        Jornal de Notícias

Vamos entrar numa semana alucinante. Será a primeira do novo confinamento, quando o número de infetados e mortos é pesado e alguns que reivindicaram relaxamento no Natal e Ano Novo, acham agora que a culpa está nas hesitações do Governo. Por outro lado, cumpre-se a última semana da campanha eleitoral para umas eleições presidenciais que, se secundarizadas, nos armadilharão a vida política.

Outros fatores vindos do exterior deixarão marcas. Em muitos países europeus a situação pandémica continuará grave e as respostas da União Europeia prosseguirão com atrasos e insuficientes. Na próxima quarta feira, Joe Biden tomará posse como Presidente dos Estados Unidos da América, depois do Capitólio ter posto alguma ordem na casa, mas podem manifestar-se já perigosas infestações que o mandato de Trump induziu na sociedade.

Estes dias que temos pela frente desafiam-nos a forte postura contra o abstencionismo. É preciso que os portugueses votem no próximo dia 24, o que não vai ser fácil no contexto da pandemia e perante erros de alguns candidatos, nomeadamente de Marcelo Rebelo de Sousa que, ao dispensar instrumentos de campanha eleitoral, tende a diminuir a importância de todos os outros candidatos, desvaloriza as eleições e amplia a abstenção. Por outro lado, não podemos abster-nos do cumprimento das regras do confinamento: o risco de contágio aumenta e é preciso poder-se entrar a porta do hospital quando necessário. E há que debater as respostas aos problemas que a pandemia arrasta para a sociedade, nomeadamente na saúde, no trabalho e emprego e na educação. A resposta à crise fechada num pretenso ponto de equilíbrio economia/saúde é uma miragem e uma perspetiva muito limitada.

As discussões sobre a educação merecem muita atenção. O Governo, com apoio dos principais atores do sistema, decidiu manter as escolas em funcionamento com ensino presencial. Alguns dos opositores a tal opção centram os seus argumentos numa verdade de La Palice, dizem que sendo grande a comunidade educativa e sabendo-se que as crianças, os adolescentes e os jovens são muito ativos e carentes de processos de socialização, as escolas abertas podem ampliar o contágio. Sim, é verdade, mas é preciso ter presente que os alunos fora da Escola têm perdas enormes (em muitos casos irrecuperáveis), são mais atingidos os pertencentes a famílias mais carenciadas e a muita pobreza e desigualdades que temos acentuam essas perdas. Além disso, os jovens fechados em casa tendem a gerar doenças e a estiolar. Implementem-se medidas na proteção aos professores, apele-se aos jovens para serem tão disciplinados fora da Escola como são dentro, mas faça-se tudo por tudo para manter a Escola aberta.

Na área do trabalho e do emprego o alerta deve ser absoluto. Às perdas herdadas da anterior crise acresceu já o desemprego e o abaixamento da qualidade do emprego provocados pela primeira fase da pandemia, mas estão ainda por aferir os impactos que o desarmar total do Lay off aplicado nessa fase vai ter. A tudo isso vão juntar-se os efeitos das medidas associadas a este novo confinamento e pressões negativas sobre os trabalhadores, vindas de novos processos de organização e prestação de trabalho impostos pela situação de exceção. 

Neste ato eleitoral talvez seja aconselhável dar força a quem assume esta agenda.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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