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10-10-2020        Jornal de Notícias

Talvez nunca, como nas próximas eleições presidenciais, tenha havido um tão grande número de eleitores embraçados, face à dimensão de imbróglios que é preciso deslindar até ao momento do voto. Em grande medida, da direita à esquerda, as eleitoras e eleitores deste país, porventura a maioria, tenderá a votar mais para evitar o que considera ser o pior cenário, do que para conseguir resultados verdadeiramente desejados. Exclui-se desta interpretação a clientela da banda extrema da direita. Esta terá no ódio à democracia, na raiva acumulada, na fuga para o campo do contra tudo e contra todos e no desgosto pela “moleza” da direita tradicional, as motivações para se mobilizar.

Vivemos uma situação de “crise”, palavra que significa, como diz Luciano Manicardi, “tempos maus”, tendencialmente de “maldades difusas”, e vamos eleger o mais alto magistrado da nação. O Presidente da República e o exercício da presidência - que depende da sua personalidade, dos valores e compromissos que assumir e, ainda, da interpretação que fizer da Constituição da República (CR) -  são muito relevantes no nosso Regime Democrático. O contexto é, pois, bem difícil e desafia-nos a observar, atentamente, as tendências que se desenham.

À direita haverá eleitores a votar em Marcelo Rebelo de Sousa apesar de um certo desgosto pela “complacência com a governação à esquerda”, tecla que os partidos desta área têm empolado para justificarem as suas incapacidades. Marcelo receberá votos vindos do centro e da esquerda em resultado do convite que António Costa e outros altos responsáveis do PS andam a fazer aos portugueses nesse sentido. Contudo, quem desta área tomar tal opção, fá-lo-ão com justificada desconfiança, pois sabe que aquela pretensa complacência com a governação de esquerda tenderá a dar lugar a conspiração ativa contra ela. Marcelo devia, mas não está em condições de fazer um forte combate à extrema direita. Os seus objetivos são, sem surpresa, reduzir danos na área ideológica e partidária a que pertence e protegê-la, o mais possível, numa hipotética caminhada para o poder.

No espaço do PS há outros embaraços em torno da candidatura de Ana Gomes. Espera-se que ainda possam ser ultrapassados. Muitos dos seus potenciais eleitores estão receosos perante algumas contradições e apelos com excesso de ambiguidade, por exemplo, entre o legítimo imperativo do combate à corrupção e o perigo de politização da justiça. E, ainda, perante vazios de substância em questões fulcrais, como são a dignidade, a valorização concreta do trabalho e da qualidade do emprego,

Mais à esquerda, as candidaturas de Marisa Matias (BE) e de João Ferreira(PCP), estão debaixo de uma campanha que tenta inculcar na cabeça dos seus potenciais eleitores a ideia redutora de que os seus objetivos são mera marcação de terreno partidário. É preciso desmontar tal lamentação. Estas candidaturas apresentam-se a mobilizar os eleitorados específicos mas não estão restringidas a esses espaços, e trazem para debate temas importantes e ideias claras sobre o papel do Presidente, o funcionamento da instituição e seus compromissos com a Constituição da República.

É difícil, mas não impossível, reafirmar, nestas Presidenciais, a maioria social e política do país, que pertence e pode continuar a pertencer à esquerda. 


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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