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14-03-2020        Jornal de Notícias

O Corona vírus está a colocar-nos desafios imprevistos e ainda imprevisíveis. Por agora exige-se a cada um de nós rigor nos comportamentos recomendados pelas entidades oficiais. Muitos dos hábitos e práticas, individuais e coletivas, do dia a dia estão a mudar profundamente. Não sabemos por quanto tempo e com que efeitos a prazo. Os perigos para a saúde são reais, mas podemos reduzi-los pela nossa disciplina e solidariedade. Há que vencer medos e, por outro lado, não permitir que se jogue com a vida das pessoas para gerar crises económicas ou políticas, ou para fazer da sua gestão um aprofundamento das injustiças e desigualdades.

Os avanços tecnológicos, científicos e comunicacionais não alteraram significativamente os comportamentos humanos e, em alguns aspetos, complicaram o bom exercício do poder político. Velhas formas de comunicação entretêm-se, em grande medida, a ampliar medos para obter audiências; e novas formas de comunicar amplificam o diz que disse, as falsidades, as efabulações e as intrigas. Continuamos a ter açambarcadores de vários tipos - desde os que açambarcam papel higiénico até aos açambarcadores globais tipo Trump - que agem como se ao salvarem-se a si, ou a uma comunidade que esporadicamente representam, ficassem assegurados a sobrevivência e os interesses de toda a humanidade.

Há uma evidência já consolidada que importa analisar em múltiplas vertentes: a maneira mais eficaz de lidar com o Covid -19 consiste no aumento do distanciamento social e consequente redução de mobilidades. Tais opções provocam fortes efeitos na organização da sociedade e do trabalho e, no imediato, forçam a redução da atividade económica, que pode levar a nova crise e a uma recessão global.

Temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para reduzir os impactos deste choque no plano económico, a uma dimensão conjuntural. Isso será possível se desta vez as prioridades não forem salvar os bancos, se os trabalhadores e as camadas populares não forem o sujeito convocado para pagar a fatura, se houver justiça na apropriação da riqueza. Precisamos de investimento e de crédito que salvaguardem o emprego e impeçam a redução dos salários; de apoio às empresas que se encontrem bloqueadas por dificuldades conjunturais de tesouraria, num processo ágil mas escrutinado. Não se pode adiar mais o financiamento público do sistema de saúde e da proteção social. Precisamos de caminhos novos para a especialização da nossa economia, diversificando-a. O afunilamento no turismo é perigoso. Há que reconstruir redes locais de fornecimentos diversos e novas formas de lidar com as catedrais do consumo.

É positiva a tomada de consciência da insustentabilidade dos cada vez maiores e mais incontroláveis fluxos de capitais, pessoas e mercadorias. Há um rompimento das “tradicionais” cadeias de valor internacionais e evidencia-se a necessidade de os países assegurarem sistemas de salvaguarda de bens de suporte de vida. A redução forçada dos transportes, desde logo os aéreos, e de outras atividades que provocam enormes emissões de gases com efeito de estufa, evidenciam tópicos de debate sobre as respostas à crise ambiental global, ou sobre o paradigma do crescimento ilimitado.

É preciso passar das experimentações forçadas para mudanças refletidas e consistentes.


 
 
pessoas
Manuel Carvalho da Silva



 
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