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13-09-2010        Jornal I

Os dados confirmam a importância da licenciatura para se aceder a um melhor emprego e a um salário mais elevado, mas daí não podem retirar-se conclusões apressadas ou triunfalistas. É verdade que Portugal aparece como um dos países onde os jovens empregados com ensino superior (entre 25 e 29 anos) são menos "sobrequalificados"; no seu trabalho (apenas 21%) por comparação com outros países (como o Canada, EUA, Espanha, etc.), onde esse valor sobe acima dos 30%. Mas, isso deve-se desde logo à baixa percentagem de licenciados entre a população portuguesa (14%), uma realidade que tem sido agravada pelo facto de, nos últimos anos, o aumento do desemprego, associado à intensificação do mercado dos títulos académicos exercer sobre os jovens uma maior pressão para protelar até mais tarde a entrada no mercado de trabalho, prosseguindo os estudos pós-graduados (na expectativa de um estágio promissor).

É claro que um diploma de ensino superior continua a ser decisivo para se alcançar um emprego digno, mas essa condição há muito deixou de ser suficiente. Em 2009 o desemprego entre os licenciados diminuiu, embora nos anos anteriores ele tenha aumentado drasticamente. Em 2008 situava-se nos 12,3%, ou seja, mais do dobro da média dos países da OCDE (5,2%). Além de uma oportunidade difícil para quem sai da universidade, os empregos qualificados e bem pagos só se conseguem – quem os consegue – depois de vários anos a "patinar";, em que o jovem, mesmo talentoso, se desgasta a saltar de um emprego precário para outro emprego precário**.

 
Em suma, importa realçar que os desempregados com um diploma universitário permanecem menos tempo nessa condição (75% com menos de um ano no desemprego) se a compararmos com a dos jovens que abandonaram precocemente o sistema de ensino (sem completar o ensino secundário). Ter um "canudo"; continua a ser preferível do que não ter nada, mas o caminho que é preciso cumprir para se alcançar o sonhado emprego qualificado e bem pago torna-se demasiado longo e penoso para a grande maioria. Por isso muitos emigram e lutam no mercado internacional onde o princípio meritocrático está instituído, ao contrário do que (infelizmente) acontece no nosso país.
 

*  Análise aos relatórios recentes da OCDE (Education at a Glance) e do GPEARI (Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais – Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) reflectem a complexidade e os resultados díspares das políticas educativas das últimas décadas, associadas aos actuais bloqueios do sistema de emprego.

**As estatísticas do emprego evidenciam aspectos conhecidos: o desempregados licenciados (cujo número ronda os 40.000) são maioritariamente do sexo feminino (66%), frequentaram o ensino público (56%), mais o universitário (61%) do que politécnico (39%), concentra-se mais a Norte (39%) e atinge a grande maioria das áreas de formação, com  destaque para as ciências empresariais, ciências sociais e do comportamento, mas também as engenharias, o direito e a comunicação social.


 
 
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Elísio Estanque