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04-01-2020        Jornal de Notícias

A existência de défices na qualidade da gestão privada e pública em Portugal é uma realidade há muito reconhecida. Os portugueses têm muito a ganhar se este tema for debatido com persistência a partir de conteúdos objetivos, identificado: i) o entendimento que temos quanto ao que qualificamos de boa gestão, que não é, por certo, a que foi praticada pela elite de gestores que exauriram a banca, depauperaram grandes empresas como a PT ou os CTT e montaram as PPP para sacar milhões ao Estado; ii) as causas políticas, éticas e outras que estão na origem de falta de rigor no exercício da gestão; iii) o significado do conceito empresa, o seu papel e responsabilidades na sociedade; iv) as missões atribuídas ao Estado e à Administração Pública perante os cidadãos, as empresas e as organizações; v) as conexões entre a qualidade da gestão, a matriz de desenvolvimento, os condicionalismos e exigências que decorrem do lugar ocupado pelo país no contexto internacional.

Neste debate é preciso fugir de apreciações generalistas porque, por um lado, são injustas para grande parte dos gestores privados e públicos e, por outro, a generalização propicia comentários oportunistas como muitos dos que, na última semana, se produziram a propósito de afirmações do Ministro Santos Silva no 8º Fórum Anual de Graduados Portugueses no Estrangeiro.

Foi elucidativo vermos a CIP reagir como virgem ofendida, em vez de clarificar águas, de identificar e assumir (para combater) a parte de responsabilidades que cabe a patrões retrógrados e a gestores oportunistas, de dar força a setores empresariais e a pequenos empresários que apostam na modernização, na qualificação e valorização dos seus trabalhadores. A CIP sabe bem que os patrões com êxito construído a partir da prática de baixos salários e de apostas numa economia assente em setores de baixo valor acrescentado (duas caraterísticas do nosso tecido industrial e económico em geral), estão de tal forma viciados nessa velha receita que, como disse Santos Silva, não serão capazes de, “por si só”, perceberem “a vantagem em trazer inovação para o seu seio e a vantagem em contratar pós-graduados e doutorados”.

Os travões à inovação e à criação de emprego altamente qualificado têm várias e complexas origens e, ao contrário do que muitas vezes é dito, o problema primeiro não são as reais fragilidades das pequenas e micro empresas, nomeadamente no que diz respeito à deficiente formação dos seus responsáveis. Quando na onda da desindustrialização, alimentada por atentismos e dinheiro “fácil” vindos da União Europeia, ou no processo de privatizações se destruíram empresas de grande qualidade na metalomecânica pesada e semipesada, no setor energético e noutros baixou-se a qualidade do emprego. Quando empresas das comunicações e telecomunicações foram pasto de gestões ruinosas ao serviço de negócios escuros, atrofiaram-se capacidades de inovar e criar muito emprego altamente qualificado.

Por outro lado, o emagrecimento dos serviços públicos e a fragilização de instituições do Estado impedem a contratação de trabalhadores altamente qualificados, ao mesmo tempo que contribuem para uma opinião pública menos preparada e condescendente face à má gestão.

Precisamos mesmo de muito melhor gestão nos setores privado e público.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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