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05-10-2019        Jornal de Notícias

Após uma campanha que começou serena e depois azedou um pouco com as habituais dramatizações - desta vez foi o processo de Tancos - e com as teatralizações encenadas em ruas, feiras e vielas, convém, no momento de decidir o voto, abstrair dos incidentes e pensar no que realmente importa. 

Pensemos em dois objetivos cruciais que os portugueses precisam de tomar em mãos: (i) alterar qualitativamente o perfil da economia; (ii) melhorar a matriz de desenvolvimento da sociedade e do país.

Poderá dizer-se que estes objetivos mexem com a politica toda e é verdade, mas há prioridades e áreas estruturantes. 

É decisivo para o nosso futuro próximo saber se a retribuição e os direitos no trabalho vão recuperar, nem que seja de forma faseada. É que, vem-se consolidando uma injusta distribuição da riqueza em desfavor dos trabalhadores quando é imperiosa a subida geral dos salários. Acresce que, a parte relativa dos lucros que vai para investimento, é cada vez menor.

O que vai ser feito para que o investimento regresse forte, venha estimulado pelo rendimento do trabalho e seja aplicado onde faz mais falta e mais valor possa criar? 

O país precisa de políticas que estanquem a sangria da emigração dos jovens e trabalhadores qualificados. E temos de conseguir criar economia em territórios onde é preciso fixar e atrair população jovem.  E que politicas de emprego vão ser implementadas para que o novo emprego seja, de facto, menos precário?

Vai mesmo apostar-se na valorização do trabalho e da produção, puxando por setores que influenciem positivamente o perfil da economia, promovendo a formação e procedendo a uma real modernização e reforço das capacidades do Estado? 

Serão adotadas medidas de controle e de regulação sobre o poder desmedido de grandes grupos económicos e financeiros que usufruem de rendas excessivas, pagam apenas parte dos impostos que deviam pagar e espremem milhares de pequenas e médias empresas? 

Importa saber se vamos cuidar dos territórios de forma a impedir o avanço dos desertos, que não são só o abandono e o esgotamento produtivo da terra, mas também o total desaparecimento de populações. Precisamos de aprender coletivamente a produzir mais e melhor e a consumir sem delapidar os recursos que temos por natureza e por conquista, e deitar mão de recursos novos em áreas como a ciência e a tecnologia. 

Procuremos perceber se vão ser garantidas a saúde, a educação e a justiça, em condições de qualidade e igualdade de acesso, e assegurada valorização e qualificação aos seus trabalhadores, pois o nosso desenvolvimento depende muito destas políticas. 

Necessitamos saber se vamos ter um governo que leve ao limite as negociações com a União Europeia, pois, não são raras as vezes que as suas políticas e procedimentos chocam com os interesses dos portugueses.

Enunciados os problemas e lidos os programas dos partidos, até parece ser fácil obter acordos amplos na sociedade, para uma boa governação. 

O problema é que, escondidos nas entrelinhas ou nas omissões desses programas e de outros documentos, há interesses poderosos, nem sempre com o rabo de fora, que remam contra a maré. 

É aí, a ler entre linhas e silêncios, que o eleitor tem de ser perspicaz. VOTE! 


 
 
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Manuel Carvalho da Silva