Os resultados das eleições vão determinar o quadro de relação de forças no Parlamento - Órgão de Soberania que reforçou o seu papel na última legislatura - bem como as soluções políticas e de governo que surgirão nos dias seguintes e, ainda, o quadro e condições em que ficará cada força política para definir estratégias de futuro.
Para que aspetos interessará olhar com mais atenção na noite do próximo domingo?
Em primeiro lugar para a votação obtida e para o número de eleitos do PS. Serão tantos quantos os necessários para este partido governar sozinho, como muitos dos seus dirigentes ansiavam? Para isso não será precisa a tão falada maioria absoluta, bastará uma robusta maioria relativa que encoraje um mandato de zigue-zagues à esquerda e à direita conforme as conveniências ou necessidades. Também terá interesse confirmar se o total de eleitos do PS é ou não superior à soma dos eleitos do PSD e do CDS, pois sendo superior, como se prevê, o PS acrescentará margem de manobra.
António Costa fez uma gestão politica hábil na legislatura que agora termina, mas os desafios que se apresentam no plano nacional, europeu e internacional não são menores do que há quatro anos e a campanha eleitoral mostrou que os portugueses não abdicam de respostas mais qualitativas e progressistas a problemas fundamentais. Que sinais surgirão no seu discurso e no de outros dirigentes do PS?
Em segundo lugar há que olhar para a Direita. Observar se foi significativo o eleitorado do PSD que preferiu o mal menor de votar no PS, na expectativa de o engordar e assim afastar as influências "maléficas" do BE e do PCP. No novo cenário conseguirá o PSD de Rio ter força suficiente para se insinuar como parceiro do PS puxando-o para um volte face à direita? Que inovação propositiva trará Rui Rio? Analistas a puxar por essa via não faltarão.
Voltará o CDS de Cristas à condição de partido volante – um à frente, três atrás? Quais os efeitos da dentada que o PSD lhe vai dar?
Em terceiro lugar é preciso não perder de vista a esquerda. Parece que o Bloco aguentará a sua representação, com ligeira oscilação positiva ou negativa. Conseguirá fazer da sua força condição para uma negociação bem sucedida? Saberá a partir daí organizar uma presença na sociedade mais enraizada nas classes populares?
E a CDU? A sua campanha conseguiu mobilizar a base eleitoral tradicional? Se sim e porque parece ter obtido ganhos nas margens - com o granjear de respeito pela fidelidade aos compromissos, pela valorização do institucional e pela capacidade de forçar avanços - poderá resistir. Assim, resiste o partido que à Esquerda mais raízes tem em classes populares carentes de representação. Nesta sociedade de exigências desafiadoras, será o PCP capaz de recuperar o rasgo de outros tempos?
Depois há os novos e velhos pequenos partidos. De nenhum deles parecem emergir ameaças à democracia, mas também nenhum aparece como fertilizante da vida política.
É expectável um dado que valoriza muito a solução politica da última legislatura: a representação parlamentar das forças da Esquerda, no seu conjunto, será reforçada.
O PS, que era Governo, será o mais favorecido, mas no fundamental o apoio dos eleitores é à solução política que foi sustentada pelos partidos da Esquerda.