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02-09-2018        Jornal de Notícias

Os trabalhadores da CP e forças de Esquerda há muitos anos denunciam o crescendo de bloqueios à manutenção da capacidade operacional e à modernização desta empresa, e de outras que com ela se articulam, no contexto da afirmação da ferrovia como excelente solução para o transporte em geral e para a mobilidade das pessoas em particular.

A Direita, que não tem pouca responsabilidade na degradação do setor, desencadeou, nos últimos tempos, uma campanha intensa sobre a CP. Inicialmente, até parecia que as suas preocupações se centravam no reforço de uma CP pública em que é urgente investir; que assumia a batalha da sua modernização. Rapidamente se tornou evidente que os seus objetivos não são esses. Eles entroncam, sim, numa estratégia a nível europeu (veja-se o que se passa na França e na Alemanha) tendente à abertura absoluta do setor à "concorrência privada", sem preocupação em servir melhor as pessoas, como fica claro com os protestos nesses países.

Como sabemos, nestes processos, os grandes grupos privados asseguram previamente o êxito: o Estado fica com a responsabilidade de satisfazer as necessidades dos cidadãos que "os negócios" não contemplam; e de pagar, sem direito a retorno, os encargos da modernização das vias e das estruturas necessárias. Os sindicatos do setor vêm usando um slogan muito identificador do desafio que se nos coloca: Atenção aos comboios: Pare, escute, lute

Com toda a desfaçatez, há quem à Direita continue a clamar contra o "Estado anafado", quando temos hoje um Estado profundamente depauperado, exatamente em resultado de políticas de Direita que tudo privatizaram, que alimentaram vergonhosas negociatas a favor de interesses privados, que destruíram estruturas e organizações em vez de as modernizar, que exauriram a Administração Pública de recursos humanos qualificados. A sociedade não se desenvolve sem um Estado moderno com recursos, estruturas e trabalhadores capacitados.

Em resposta a estas acusações, os trauliteiros de Direita invocam logo o velho ditado de que só tem vícios quem os pode sustentar, ou seja, aconselham-nos a esquecermos o direito à saúde, à educação, à segurança social, à justiça - para todos e com qualidade - porque não temos dinheiro para isso. Debaixo da trapaça de que não importa se os serviços são prestados pelo setor público ou pelo privado, têm sido desenvolvidas políticas estratégicas de enfraquecimento dos meios e das capacidades materiais e humanas, por exemplo no SNS, e ampliadas as áreas de negócios dos privados. E as propostas da Direita são cada vez mais incisivas na reclamação de tudo privatizar. Até o "novo" partido de Santana Lopes faz do aprofundamento desses objetivos as suas propostas de modernidade.

O afã da Direita apresentado como solução para todos os problemas é o do crescimento económico. Ora, todos sabemos que não basta assegurar crescimento: é preciso distribuir justamente os ganhos obtidos e garantir reinvestimento que desenvolva a sociedade, quer pressionando alterações qualitativas no perfil da nossa economia com atividades que tragam maior valor acrescentado, quer melhorando a educação e a formação, quer pagando melhores salários e tornando a vida menos cara em áreas chave da vida das pessoas como é o caso do custo da habitação que se está a tornar insustentável para milhares e milhares de famílias.

Muita gente que embarcou na onda de credibilizar as privatizações das comunicações e telecomunicações, dos transportes, do mercado elétrico e de outros setores fundamentais, assume hoje que esses processos se confirmam como negócios desastrosos para a economia nacional e que são faturas bem pesadas para o povo português. E de que nos vale ter crescimento, se parte grossa dos seus resultados for encaminhada para "acudir" aos desastres e roubos da Banca, como tem acontecido?

A Direita está em estado de negação do seu passado e numa palração aparentemente contraditória, com que pretende esconder maldades das suas propostas. À Esquerda impõe-se ampliar o poder social, exercer o poder político na sua plenitude e com propostas ofensivas. E fazer uma denúncia forte da estratégia da Direita, não se distraindo com pretensas contradições e fragilidades desta.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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