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03-08-2018        Público [P2]

Para muitos arquitectos, a passagem de Steven Holl pelo Porto significou o regresso de uma figura mítica que no final dos anos 1980 e anos 1990 deslumbrou o mundo da arquitectura com aguarelas dramáticas de espaços curvilíneos e maquetes experimentais de edifícios que pareciam corpos. Era uma alternativa às notícias “frias” que vinham da Suíça (Herzog & de Meuron, Zumthor) e às demasiado “quentes” que chegavam da Holanda (Koolhaas, MVRDV). Steven Holl surgia como um arquitecto não somente muito talentoso, mas também capaz de formular um discurso que escapava às categorizações comuns: “anchoring” e “intertwining” eram conceitos que revelavam a importância do sítio e a estratégia de “entrelaçamento” das formas como modo de exponenciar a experiência arquitectónica. O cruzamento da arquitectura com a “fenomenologia” que Holl desenvolveu com Juhani Pallasmaa foi o culminar de uma abordagem cuja origem podemos situar no “regionalismo crítico” de Kenneth Frampton: a necessidade de reintroduzir valores hápticos na arquitectura, para combater a visualidade (ou o “ocularcentrismo”).

A vitória no concurso para o Museu de Arte Contemporânea de Helsínquia, com 516 concorrentes, e a consequente construção do “Kiasma”, inaugurado em 1998, é o ponto culminar desta fase. A publicação de uma El Croquis, em 1996, com projectos dos 10 anos anteriores, mostra um arquitecto em estado de graça: um trabalho lírico, livre, brilhantemente inventivo.

O que acontece a seguir? Muitas coisas, mas a China é uma delas. A sucessão de edifícios gigantescos que fez na China a partir do início do século, num processo relativamente acidental, como explica na entrevista, implica uma diluição “fenomenológica” e uma explosão do “iconográfico”. Nesse momento, Holl está a construir a urbanidade da China no século XXI e tudo muda. Nos últimos 10 anos também nos Estados Unidos constrói grandes estruturas museográficas, centros de arte visual, escolas de arte. O regresso à Europa, construindo o Reid Building em frente à mítica e agora duplamente ardida Glasgow School of Art, é difícil.

De algum modo, como acontece por vezes na arquitectura, a relevância de Holl é proporcional à obra construída: quanto mais constrói, menos parece ser. Obviamente, prefere construir do que ser relevante. E mesmo com pergaminhos na teoria – que o distinguem da “estrela” mais comum –, o discurso sobre a “luz natural” surge recorrentemente como uma explicação simplificada, mágica, que tudo legitima. De resto, o star-system tem regras precisas: contar histórias sobre arquitectos lendários é obrigatório; evocar obsessivamente Siza e Zaha Hadid só mesmo o Steven Holl. E nisso é americano, é cândido: viva Bramante, viva Brunelleschi, viva eu. Viva!


 
 
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Jorge Figueira



 
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