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12-07-2006        Diário Económico
Quem prova uma das novas águas aromatizadas sabe imediatamente que ela se parece mais com um refrigerante do que com a sua água habitual. Não está a ser enganado.

O artigo Pseudo-Águas, publicado no Diário Económico em 31/5/2006 da autoria do dr. Sandro Mendonça, utiliza o exemplo da nova categoria de águas aromatizadas para de forma muito critica justificar que nem tudo o que é novo é bom.

O argumento é que o sucesso comercial conseguiu-se com base no engano dos consumidores que compram um refrigerante por água. Neste "oeste selvagem" o regulador deveria assumir um papel mais activo.

A minha opinião é que a realidade não é tão preocupante e pode ser analisada sob outras perspectivas. As leis de mercado encarregam-se de deixar sobreviver apenas propostas verdadeiramente interessantes para os consumidores, e, neste caso, o regulador é suficiente atento para que o consumidor se sinta protegido.

Quem prova uma das novas águas aromatizadas sabe imediatamente que ela lhe parece mais com um refrigerante do que com a sua água habitual, mas o consumidor não está a ser enganado.

O principal ingrediente destas novas bebidas é de facto a água de nascentes conhecidas e valorizadas, e esse é o factor diferenciador quando comparadas com um refrigerante.

Por outro lado apresenta-se uma oferta alternativa mais actual, mais ao encontro das preocupações de Saúde e beleza dos tempos que correm.

A nova imagem é construída com base na própria reputação das águas, desde sempre vistas como um produto saudável, às quais foram adicionados aromas naturais, diferenciando-se novamente dos refrigerantes. Esta imagem foi reforçada por sabores novos e por misturas de fruta com ingredientes reconhecidamente saudáveis (ginseng, magnésio, hortelã, etc.).

Para responder às preocupações com a obesidade evitou-se a adição de açúcar criando-se bebidas com baixas calorias.

Temos de concordar com o mérito da estratégia de marketing dos fabricantes. A lógica é promover um dos ingredientes do produto, um ingrediente suficientemente importante e valorizado, e não o produto em si. Chama-se água com gás aromatizada e não gasosa.

Procurou-se atrair os consumidores com anúncios divertidos e irreverentes. Ao efectuar-se um corte radical com o passado banalizaram-se os momentos de consumo. A guerra passou a ser no muito competitivo e apetecível território dos refrigerantes.

Tradicionalmente, em Portugal, a água com gás era vista como um produto medicinal, uma bebida que se consumia com o objectivo de aliviar a barriga de indisposições. Era o tempo da "água das pedras", referindo-se às águas com gás pelo nome da marca que mais exibia esta qualidade.

Hoje em dia, após o aparecimento das águas aromatizadas, tudo isto se alterou.

Quem não se lembra de um dos anúncios de Pedro Tochas – Estou que nem posso! Vou beber uma água com gás Frize para ficar melhor, mas não sinto qualquer diferença!

Os resultados foram surpreendentes. Nos verões de 2002 e 2003, as vendas do novo produto com sabor a limão superaram de tal maneira as expectativas que o mesmo esteve diversas vezes em ruptura devido a falhas na produção, sendo as entregas continuamente rateadas pelos vários operadores do mercado. Nada mal, para uma referência acabada de chegar ao mercado.

Os fabricantes de sucesso sabem que não se pode montar uma estratégia de futuro enganando o consumidor, pois ele é, como sempre foi, o verdadeiro juiz dos comportamentos das empresas no mercado. O consumidor dá-nos a sua sentença sempre que no acto da compra faz a sua opção.

Mas para que o consumidor possa escolher têm de estar criadas condições que lhe permitam sentir confiança nas várias opções. E é aqui que entra o papel do regulador.

O regulador deve garantir que a Saúde pública não é posta em risco, que o consumidor não é deliberadamente enganado com base em promessas falsas, e que cada vez mais existe uma aproximação maior às suas expectativas.

No caso das águas engarrafadas tudo isto se verificou, e inclusive existe legislação específica para este sector, o que mostra que o regulador está atento.

No entanto é de louvar que haja liberdade para que as leis de mercado sejam soberanas e para que os fabricantes façam aquilo que quem vende sempre tem que fazer, ou seja, arranjem soluções para que a sua oferta seja o mais apetecível.

O novo segmento das águas aromatizadas é deste modo um bom exemplo da inovação com enorme êxito. É o reconhecimento da real adequação da oferta às necessidades fundamentais dos consumidores. É também a demonstração de como funciona um mercado competitivo numa economia aberta. É caso para dizer que podemos ficar descansados pois desta vez o que é novo é bom.

 
 
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