30-08-2006 Diário Económico
Os museus estão ainda longe de realizar todo o seu potencial na sociedade contemporânea. No entanto, propor um reposicionamento dos museus impõe também redefinir a ideia de museu.
Interessa-nos pensar o papel dos museus na transformação da sociedade. Os museus são equipamentos investidos da preservação de riquezas culturais, são veículos de mensagens identitárias, são um espaço que atrai viajantes fazendo aumentar o tráfego turístico nos territórios em que se inserem. Há muito que pensar sobre a forma como devem evoluir. Tanto mais quando ainda este mês o jornal "Público" (6 de Agosto) chamava à primeira página o problema da ausência de dados sobre o seu impacto na economia portuguesa e sobre a qualidade dos serviços culturais prestados.
É necessário que exista informação. E é importante utilizá-la para desenvolver uma reflexão sobre o futuro da actividade museológica. Os museus estão ainda longe de realizar todo o seu potencial na sociedade contemporânea. No entanto, propor um reposicionamento dos museus impõe também redefinir a ideia de museu. Uma resposta, talvez paradoxal, a esse desafio é que o museu deve ser visto como um actor de pleno direito do Sistema Nacional de Inovação.
Tal como outras organizações os museus não são alheios às mudanças nas tecnologias de informação, à crescente influência económica das indústrias de conteúdos, à concorrência internacional, etc. Naquele que promete ser o século mais veloz e hipertextual de sempre a passividade do sector museológico arrisca-se a ser fatal, para si e para a sua envolvente. Os museus têm inevitavelmente um papel na reactivação urbana, na captação de visitantes sofisticados, na projecção da imagem do país ou da marca de uma região. Como sabemos este entendimento tem sido tangibilizado nos casos Tate Modern (Londres), Gugenheim (Bilbau), Vasa (Estocolmo), e Serralves. Estes são esforços museológicos interactivos e abertos às oportunidades e desafios da comunidade local num mundo em globalização.
Então, qual o papel dos museus no século XXI? A resposta dada aqui é que os museus devem ser reconhecidos como instituições activamente comprometidas com o espírito dos tempos, isto é, com a "sociedade em rede" e com a "economia baseada no conhecimento".
Os museus oferecem produtos culturais cujo poder não deve ser subestimado. Os museus são lugares de comunicação, ancoradouros de ideias e instrumentos de acesso a actividades intelectuais. Enquanto actores específicos da "indústria da criatividade" os museus emergem como novos potenciais nós no Sistema Nacional de Inovação. Nessa condição, os museus influenciam (a par das universidades, escolas, laboratórios, empresas) o ambiente geral que nutre a capacidade social de inovar e criar valor na economia global.
Enquanto tradicionais repositórios de recursos simbólicos, os museus estão bem colocados para assumir um papel renovado na democratização dos saberes devendo também envolver-se na discussão dos grandes problemas contemporâneos e na comunição pública da ciência. Neste sentido, o intercâmbio de pessoal com escolas secundárias é de louvar e de aprofundar. Contudo, não há conservação de colecções sem permanente aprofundamento de conhecimento sobre elas. E aqui há ainda muito a fazer (é raríssimo ver um ‘link’ "investigação" nos ‘websites’ dos museus portugueses). Por exemplo, relações mais estreitas com centros de investigação, colaborações com o ensino superior (estágios, teses), apoio a projectos de pesquisa individuais, criação de prémio e bolsas de investigação, acessibilidade digital aos recursos, figura do investigador residente, etc.
Os museus são visitados porque são sítios interessantes. O argumento aqui é que a definição de "interessante" se encontra em transição e que o negócio de ser "interessante" será uma actividade cada vez mais importante, competitiva e baseada em criatividade. Do ponto de vista da política pública a implicação é que as práticas museológicas devem ser ajustadas de modo a cumprirem uma missão de "activação do conhecimento" na sociedade portuguesa. Desse modo os museus tornam-se eixos de intervenção comum dos ministérios da cultura, da educação, da ciência e da economia. Ou seja, os museus fazem parte da infra-estrutura cognitiva do país. É nesta perspectiva que devem ser vistos, apoiados e avaliados.