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15-11-2006        Diário Económico
Actualmente existem no mundo 25 cidades com mais de 10 milhões de habitantes. Estima-se que mais de 5% da população mundial vive nessas cidades.

A primeira cidade a alcançar a marca de 1 milhão de habitantes foi Beijing. Tal verificou-se há pouco mais de 200 anos, por volta de 1800. Actualmente existem no mundo 25 cidades com mais de 10 milhões de habitantes. Estima-se que mais de 5% da população mundial vive nessas cidades.

Estas megacidades que estão a surgir à frente dos nossos olhos – isto é, durante o meu ciclo de vida, durante o ciclo de vida do leitor desta coluna – constituem uma das maiores novidades civilizacionais da época que vivemos. Elas encerram um potencial de novidade (e de surpresa) que ainda não conseguimos antecipar neste momento.

Uruk, que se situava nas margens do rio Eufrates, cerca de 230 quilómetros a sudeste da actual cidade de Bagdade, terá provavelmente sido a primeira cidade. Por volta de 3000 antes de Cristo viveriam em Uruk mais de 50 mil habitantes, talvez 80 mil no seu auge. Recordemos que foi concomitante a esse desenvolvimento urbano que surgiu a escrita, por ordem cronológica a terceira grande invenção da humanidade (as duas anteriores haviam sido a agricultura e a domesticação de animais).

Mumbai, capital do estado da Maharashtra na Índia, é agora a maior cidade do mundo. De acordo com dados de 2005, continha 12,6 milhões de habitantes na área administrativa e 18,5 milhões na sua região metropolitana. Até ao momento, o nome desta cidade indiana não está associada a nenhuma invenção tão radical como a escrita. Nem é provável que, a breve prazo, o venha a estar. Na verdade, uma proporção significativa dos seus habitantes, cerca de 6,5 milhões para ser mais preciso, vivem em condições esquálidas, em concentrações que há alguns anos designaríamos por "bairros da lata" mas que, agora, por influências estrangeiras, chamamos "favelas" ou mesmo, na expressão anglo-saxónica, "slums".

Contudo, a par da miséria que grassa nesses bairros, Mumbai é também centro de uma vibrante vida cultural. Bollywood, capital da poderosa indústria cinematrográfica indiana, por exemplo, está efectivamente localizada no espaço urbano de Mumbai (em contraste com Hollywood que é uma localidade com existência física separada de Los Angeles). Mumbai concentra ainda uma criativa indústria publicitária, a par de ser o maior centro financeiro do subcontinente asiático.

Outras megacidades com mais de 10 milhões de habitantes incluem São Paulo, Rio, Nova Iorque, Seoul e Tóquio. Por volta de 2050 o número de megacidades com mais de 10 milhões de habitantes poderá vir a duplicar, vindo a concentrar-se nelas quase 10% da população mundial.

Que podemos esperar destas megacidades?

Esta é, na verdade, uma das maiores interrogações civilizacionais com que nos defrontamos. Muitos dos estudos que vêm sendo feitos focalizam-se nas preocupações com a sustentabilidade. No entanto, é de prever que a concentração de milhões de habitantes num raio de poucas dezenas de quilómetros venha também a permitir combinações novas, nunca antes alcançadas. Indivíduos de aptidões excepcionais e interesses comuns, que antes se manteriam geograficamente afastados ou apenas de forma infrequente se poderiam cruzar, dispõem agora da possibilidade de estabelecer relações numa base mais estável. Neste contexto, as vantagens da especialização podem caminhar a par da constituição, em áreas muito variadas, de massas críticas mínimas, imprescindíveis para proporcionar novos impulsos ao processo de desenvolvimento criativo. Trata-se de uma situação singular, em que notáveis economias escala (ou de aglomeração) poderão florescer em simultâneo com fortes economias de variedade.


 
 
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