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29-11-2006        Diário Económico
A densificação institucional é uma questão-central para a economia política contemporânea, uma vez que cria capacidades redobradas.

Territorialidade do conhecimento. Há oito dias nesta mesma coluna, José Reis escreveu sobre o nexo aglomeração-conectividade. No contexto de um argumento sobre a dimensão local das dinâmicas económicas da criatividade, mostrou que o litoral urbano português (Lisboa-Coimbra-Porto) não deve ser esquecido numa estratégia para a economia do global do conhecimento. Um reposicionamento de Portugal passará, em primeiro lugar, pela afirmação no espaço ibérico e, em segundo lugar, pela afirmação no contexto europeu.

A geografia importa de duas maneiras: 1. Estruturas urbanas densas permitem que os agentes possam de usufruir dos benefícios da proximidade ("economias de aglomeração" - baixo custo de acesso a recursos devido à sua concentração espacial); 2. As aglomerações permitem um acesso eficiente ao resto do mundo, contribuindo para atrair e reter relações cosmopolitas e criadoras com outras aglomerações ("economias de conectividade" - minimização do tempo, do custo e do ruído na interacção entre pólos de aglomeração).

Características da criatividade. Uma das características fundamentais do nosso tempo é vivermos num mundo que se expande por via das possibilidades da globalização e da organização à distância em virtude das tecnologias digitais de informação. Outra característica chave é a tendência para o enraizamento local da actividade económica que o desenvolvimento dos sectores conhecimento-intensivos, desde os serviços financeiros à biotecnologia, veio reforçar. A coexistência destas características é um paradoxo para os analistas. A gestão simultânea de forças centrípetas e centrífugas faz do trabalho dos decisores um espectáculo de equilibrismo malabarista.

Contabilidade do conhecimento. As dinâmicas de produção e reprodução do conhecimento diferem no espaço. E como é sabido, a geografia da inovação não faz de Portugal uma paisagem "achatada", isto é, as várias regiões não estão ao mesmo nível.Os indicadores clássicos de inovação continuam a ser instrumentos imprescindíveis para monitorar as assimetrias do sistema nacional de inovação.

Em 2005, e de acordo comos últimos dados do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), as entidades residentes em Portugal activas no negócio do conhecimento produziram 206 invenções, medidas em termos de pedidos de patentes e modelos de utilidade. A região que mais concentrou esses novos pedidos de reconhecimento de invenção foi a Grande Lisboa (45,1%), seguida à distância pela região Norte (28,6%). É também revelador o facto de Lisboa ser a região com o maior número de patentes ‘per capita’ e de ter visto ainda o seu peso aumentar entre 2004 e 2005. No cômputo geral, a origem geográfica dos pedidos destes títulos de propriedade sobre ideias técnicas ficou mais concentrada.

Crescimento do conhecimento. As dinâmicas do conhecimento economicamente útil diferem também no tempo. Entre 2001 e 2005, entre os vários tipos de requerentes nacionais (empresas, inventores independentes, institutos públicos e universidades), houve evoluções assinaláveis. O contributo das universidades disparou: de 24 patentes em odelos pedidos em 2001, passou para 55 em 2005 (o número de pedidos em 2006, até ao final deOutubro, são ainda mais expressivos: 66). Este foi o tipo de requerente com maior crescimento, representando hoje já um terço de todos os pedidos.

Duas explicações (de natureza local) surgem como hipóteses promissoras: 1. O INPI lançou no final da década passada uma rede
de gabinetes de apoio (os GAPI) integrados no perímetro académico; 2. Os anos 90 assistiram, também, a uma proliferação de incubadoras de projectos empresariais acopladas às universidades. A co-presença das universidades e destas instituições complementares parece estar relacionada com o crescimento de patentes pedidas. As universidades dão sinais de se tornarem mais empreendedoras. A densificação institucional é, portanto, uma questão-central para a economia política contemporânea, uma vez que cria capacidades redobradas. As implicações últimas deste processo-desafio são ainda difíceis de antever em toda a plenitude.


 
 
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