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03-12-2017        Jornal de Notícias

Portugal tem registado uma forte criação de emprego e isso é muito positivo. Observa-se, contudo, um ligeiro recuo da taxa de atividade, o que é negativo. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que se regista desde o primeiro semestre de 2014 e se tem robustecido nos dois últimos anos, resulta fundamentalmente do aumento do emprego e não da obtenção de ganhos da produtividade o que, não deixando de ser positivo no imediato, pode ser comprometedor para o futuro. Estes são três aspetos relevantes que um estudo do Observatório sobre Crises e Alternativas  traz para reflexão, analisando de forma consistente as mudanças estruturais que estão a acontecer no nosso país, no quadro da atual recuperação económica.

Os autores deste estudo fazem uma muito oportuna observação da ubiquidade do conceito produtividade, que merece transcrição integral: “A produtividade do trabalho é frequentemente tomada como uma medida de esforço e da competência de cada trabalhador. É certo que a produtividade pode depender do esforço e da competência. Mas, se dependesse só disso, como se explicaria que o sector financeiro em Portugal fosse várias vezes mais produtivo do que a agricultura? Ou como se explicaria que um barbeiro sueco fosse muito mais produtivo do que um barbeiro português, mesmo tendo em conta as diferenças de poder de compra entre os dois países? Essas diferenças não dependem certamente de características culturais ou inatas de diferentes povos. Em rigor, a produtividade devia ser medida pela quantidade de um bem produzido por unidade de tempo (hora, semana, mês, ano). Mas na realidade, o que é medido nas estatísticas é o valor médio criado numa hora, semana, mês, ano, por um conjunto de trabalhadores que pode ser constituído por todos os trabalhadores de um país, de um sector ou de uma fábrica.”

No quadro nacional e internacional que estamos a viver, o incremento do turismo, da reabilitação urbana e de alguns novos serviços – que de forma direta e indireta, no essencial, estão associados ao incremento dessas atividades – constitui a base da recuperação económica alcançada.

Estes setores, no seu perfil atual, têm baixos níveis de produtividade, pelo que reforçam a amplitude da componente da economia portuguesa com baixo potencial de criação de valor acrescentado, e logo, não potenciam a mudança qualitativa da matriz de desenvolvimento do país. Sendo positivo o seu efeito imediato, quer para a criação de emprego, quer para a redução do desemprego, é agora imperioso apostar na evolução qualitativa desde logo do turismo, e encetar um debate cuidadoso e profundo sobre políticas de habitação, de organização das cidades, de desenvolvimento em todo o território nacional. Mesmo estes esforços, por muito bem conduzidos que sejam, não chegarão para encarar e vencer os grandes desafios do futuro do país, que queremos ver a recuperar população, a merecer a confiança dos jovens para que aqui construam vidas e famílias em condições de dignidade e felicidade.

Portugal precisa de políticas económicas estratégicas onde a industrialização e novos serviços associados surjam com pujança.

Os ganhos obtidos nos sectores que têm estado a crescer devem ser canalizados para os requalificar e para diversificar a economia. O governo deve empenhar-se em políticas de investimento público com objetivos muito concretos de resposta a necessidades prementes das populações, e para puxar pelo investimento privado.
Para que haja ganhos de produtividade e o país se desenvolva, as políticas têm de ser estratégicas e não de mero ajustamento a circunstâncias. Diversificar a economia, apostar no investimento, na inovação e na indústria, na qualidade do emprego e em melhores salários, na revitalização mais equilibrada do sistema de relações coletivas de trabalho e numa modernização da Administração Pública que tenha por enfoque as pessoas, colocar o sistema financeiro ao serviço destas políticas, são desafios prementes a prosseguir em simultâneo. Por aí, a sociedade portuguesa mobilizar-se-á.
 


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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Destaque > Barómetro das Crises | n.º 17 > A dupla face da recuperação: subida do emprego, estagnação da produtividade
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