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03-03-2007        Público
A transposição para o espaço público da discordância e do descontentamento relativamente às políticas ou outras questões públicas é o exercício de um direito básico nas sociedades democráticas. Expressar outros pontos de vista é o reconhecimento da diferença e traduz o respeito de todos entre todos. A democracia é um regime político assente mais no conflito do que no consenso.

A manifestação como a de ontem pode ser lida como um desencontro de expectativas: as dos que se manifestam contra as medidas do Governo, as dos que consideram ser necessário implementar algum tipo de reformas, as dos que consideram que o diálogo social é uma metodologia virtuosa, embora exigente, na quota de responsabilidade que pede a todas as partes envolvidas.

Uma cultura política afirmativa resulta da participação activa dos cidadãos na vida política em todas as esferas, que não se esgota nem de longe, nem de perto na expressão pública do descontentamento. O tempo imediato da expressão do descontentamento é dessincrónico relativamente a um possível tempo futuro onde essa reivindicação pode ou não ficar inscrita. Aliás, se o tempo da reivindicação coincidisse com o tempo do resultado reivindicado, estaríamos perante o populismo e o princípio da cedência a grupos de pressão, quaisquer que eles sejam. A qualidade da democracia também por aqui se vê. É que a democracia e a república devem saber escutar, devem meditar sobre o que ouvem e devem saber decidir no interesse geral. É por isso que as manifestações, enquanto exercício cívico, entre outros, são importantes. É também por isso que independentemente dos resultados devemos expressar a nossas discordâncias. Mas tão ou mais importante do que reivindicar é saber escutar, é utilizar a linguagem do diálogo e, por fim, decidir o presente sem comprometer as gerações futuras.

 
 
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António Casimiro Ferreira