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14-05-2017        Jornal de Notícias

Os últimos anos têm sido marcados pela implosão eleitoral da social-democracia europeia. Este movimento começou na Grécia, com o quase desaparecimento do PASOK, passou por Espanha, atravessou a Holanda, está em curso em França com as eleições presidenciais e legislativas e, aparentemente, terá mais uma sequela no próximo mês no Reino Unido. As razões para este colapso têm raízes nas trajetórias políticas específicas de cada país e de cada partido, mas esta coincidência geográfica e temporal não é alheia às causas que geraram e alimentam a crise económica, financeira e social sob a qual vivemos há quase dez anos. Desde então, os partidos socialistas/sociais-democratas têm oscilado entre uma adesão mais ou menos entusiástica a políticas de austeridade e tentativas de rutura pela Esquerda. Esta via tem sido minada por virulentas oposições internas alinhadas com o centrão político - agora também designado "centro extremo" - e por ambiguidades em relação à UE.

O realinhamento social-democrata tem integrado uma espécie de movimento tectónico para a Direita. No vazio político resultante desse resvalar contínuo, o "centro extremo" tenta reinventar-se a partir de uma grelha política que, recusando a divisão Esquerda-Direita, anuncia agora uma nova divisão entre "abertura" e "fechamento". Neste exercício, o "centro extremo" coloca-se sempre do lado "positivo" da dicotomia, ou seja, os seus ideólogos e intérpretes são os "abertos". É a única forma de tentarem alguma credibilidade, face à destruição de esperança e confiança que as suas práticas de poder têm provocado nos cidadãos.

Macron surge como o exemplo último dessa interpretação, que se encontra um pouco por toda a Europa. Em Portugal é assumida por "sociais-democratas" com partido ou independentes, mas em particular na ala direita do Partido Socialista. No seu discurso e elaboração de propostas - que partem do "pragmatismo" da inevitabilidade da era neoliberal - o comando do mercado é tido como condição para a validade de troca de ideias e de contributos, mas também para a fundamentação das mobilidades, flexibilidades e adaptações a que os trabalhadores se deveriam sujeitar no plano nacional ou no espaço internacional. Para este Centrão em reconfiguração, a União Europeia, ao organizar e promover a financeirização e a globalização hegemónica, constitui-se automaticamente como o garante de uma convivência sã entre os diferentes espaços nacionais. Nestes já não se justificariam medidas de regulação e proteção específicas e objetivas.

A realidade em que temos vivido e que tende a acentuar-se é bem diferente dos cenários credibilizados por esse "centro extremo". Vimos de décadas de acrescida competição internacional que destruiu milhões e milhões de postos de trabalho, que degradou direitos, que esvaziou de dignidade os próprios direitos humanos. Na Europa esse tem sido o alimento de uma extrema-direita xenófoba e fascista, bem como da indiferença e hipocrisia de outros perante os dramas do exílio forçado e de um Mediterrâneo transformado em cemitério.

Se este novo discurso é facilmente desmontável pelos factos concretos das nossas vidas, deve contudo merecer particular preocupação a diabolização em curso de expressões como "segurança" ou "proteção", apresentadas como características de sociedades "fechadas". O que a história do movimento operário e sindical e de toda a luta social e política por direitos sociais e culturais nos mostra é que foram a segurança e a proteção das pessoas, desde logo no emprego, a base material e ideológica de um mundo mais solidário e internacionalista. Jamais essas grandes conquistas foram sinónimo de autoridade desmedida do Estado ou fontes de ódios ao estrangeiro.

A Esquerda tem de enfrentar os fortes poderes internacionais, de assumir com determinação a vontade de recuperar dimensões de soberania indispensáveis para um novo modelo de desenvolvimento. São precisas as experiências de outros países, o diálogo e a cooperação internacionais, nomeadamente, dentro de projetos coletivos sérios como deveria e deve ser a União Europeia. Estes serão caminhos seguros para a salvaguarda dos bens comuns da Humanidade.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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