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24-04-2017        Público

Londres, 9 de Agosto de 2011. Boris Johnson, presidente da Câmara de Londres, decide, no dia seguinte a mais uma noite de violentos confrontos nas ruas de Londres, deslocar-se a uma das zonas mais afetadas (Clapham Junction) pela violência. Seguido pelas câmaras de televisão e acompanhado pela ministra dos Assuntos Internos, Theresa May, Boris Johnson decide interagir com os residentes. À medida que o diálogo passa a contestação as imagens captam Theresa May a retirar-se progressivamente do local, deixando o mayor de Londres sozinho a defender-se da contestação popular.

25 de Abril de 2016. Depois de ter decidido fazer campanha pelo Remain, Theresa May faz o seu único discurso a favor da manutenção do Reino Unido na União Europeia, no Institute of Mechanical Engineers em Londres. Utilizando uma linguagem de custos e benefícios, apresenta uma série de argumentos — segurança, comércio, possível independência da Escócia — para justificar a sua posição. Não sem antes atacar o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH), instituição independente da União Europeia. Segundo Theresa May, se o Reino Unido estava interessado em reformar a legislação sobre os direitos humanos, não deveria deixar a União Europeia, mas sim o TEDH. Tendo esta sido a sua única intervenção significativa da então ministra dos Assuntos Internos, não deixa de ser curioso que tenha sentido a necessidade de criticar uma outra instituição europeia num discurso em que era suposto defender as vantagens do projeto europeu. Até ao dia 23 de Junho de 2016, não mais se ouviu Theresa May em discursos públicos a defender a permanência do Reino Unido na UE.

Separados entre si por praticamente cinco anos, estes dois acontecimentos ilustram bem o estilo de liderança da atual primeira-ministra britânica: calculista, pouca dada a aventuras políticas, interessada em passar uma imagem de confiança, competência e moderação. O silêncio é uma arma com a qual sabe lidar, evitando expor em demasia as suas posições para além de princípios gerais, muitas vezes excessivamente vagos (como a defesa de um “Brexit” vermelho, azul e branco — as cores da bandeira) exceto quando estritamente necessário.

Theresa May foi ministra dos Assuntos Internos — vista como a pasta governamental mais difícil de gerir — durante seis anos (2010-2016). Desde R.A. Cross, ministro do segundo governo de Benjamin Disraeli (1874-1880) no tempo da rainha Vitória, que nenhum político se tinha conseguido manter nessa posição durante tanto tempo consecutivo. A sua sobrevivência deveu-se sobretudo à sua capacidade exímia em perceber como poucos (com ajuda do seu assessor político Nick Timothy) o xadrez político em seu redor. Foi assim que chegou a primeira-ministra em Julho de 2016 e está convicta que será assim que conseguirá agora aumentar a maioria do Partido Conservador no Parlamento após as eleições de 8 de Junho. Isso permitir-lhe-á ter uma margem de manobra mais alargada nas negociações com Bruxelas, ao mesmo tempo que, seguindo as sondagens, conseguirá aniquilar a oposição, particularmente o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn. É igualmente uma forma de colocar em ordem a ala mais conservadora do seu partido, principalmente aqueles que pretendem que o Reino Unido saia da União Europeia sem qualquer acordo.

É possível que tudo isto se concretize e que Theresa May veja o seu poder reforçado no próximo dia 9 de Junho — tendo já para esse efeito contratado os serviços do australiano Lynton Crosby, artífice da maioria absoluta de David Cameron em 2015. Contudo, se há algo que a política britânica nos tem mostrado nos últimos anos é que o improvável muitas vezes acontece.


 
 
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André Barrinha



 
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