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27-04-2006        Visão
Apesar de ser o acto fundador da nossa contemporaneidade com a Europa e o mundo democrático e anti-colonial, o 25 de Abril é um acontecimento cada vez mais ignorado pelos portugueses. Trata-se de uma ignorância activamente produzida pelo sistema educativo, os meios de comunicação social e a classe política. A trivialidade com que hoje se exerce a cidadania e se pratica a democracia entre nós acarreta a trivialidade do acontecimento que fundou uma e outra. Assim, a relevância do 25 de Abril pode manifestar-se, quando muito, como excesso ("os anos loucos") e nunca como exigência capaz de interpelar a má consciência do presente.
Contra a corrente e aproveitando os espaços e as vontades inconformadas, o Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra tem vindo a realizar ao longo dos anos a pedagogia do 25 de Abril orientada para os mais jovens e em parceria com escolas, autarquias e associações culturais. Acaba de lançar o DVD-ROM, "25 de Abril: 32 anos, 32 perguntas", produzido em parceria com a Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação. Com o uso de tecnologia interactiva e no meio de jogos, música, karaoke bandas desenhadas e animações, dá-se resposta a 32 perguntas feitas por alunos (entre 10 e 14 anos de idade) das escolas básicas da Região Centro. Eis as perguntas formuladas por essas crianças: Tinham medo de Salazar? Até os políticos? O povo tinha direito a voto ou era obrigado a votar em Salazar? Antes de 1974 já tinha havido alguma revolução? Alguém conseguiu fugir do Tarrafal? O que possibilitou a manutenção de uma ditadura durante 40 anos? Que razões levaram a formar a PIDE? De que modo os programas da rádio eram controlados pela Censura? A emigração nos anos 60 foi muita. Porquê? Por que é que os rapazes e as raparigas tinham de andar em escolas separadas? Como é que namoravam e conseguiam casar? A população portuguesa estava preparada para o 25 de Abril? Como é que os guardas do 25 de Abril conseguiram planear sem a PIDE os ver? Onde é que arranjaram coragem para fazer a revolução e conseguirem derrotar os guardas? O Zeca Afonso já tinha as canções preparadas? Ele já sabia que no dia 25 de Abril ia haver uma revolução? Enquanto preparavam e executavam a revolução os soldados pensaram nas terríveis consequências que podiam sofrer se fossem descobertos e o golpe falhasse? Em que condições se entregou Marcelo Caetano? Houve mortos durante a revolução? Por que é que a seguir ao 25 de Abril os homens da Revolução não pagaram com a mesma moeda? Como é que o povo soube que aquele dia era o dia da libertação? Nas pontas das espingardas foram colocados cravos vermelhos. Porquê? Todas as pessoas estiveram de acordo com este acontecimento histórico? O 25 de Abril é uma revolução popular ou militar? Quem foram as pessoas que estiveram à frente do 25 de Abril? Existe alguma coisa a elogiá-las? Depois da Revolução o país teve dificuldades em organizar-se politicamente? O povo português não teria demasiada liberdade depois de 1974? Como é que foi a luta depois do 25 do Abril? Que impacto teve o 25 de Abril a nível mundial? O que aconteceu às nossas colónias? Como foram libertadas? Nos nossos dias existe alguém que possa adquirir os poderes de Salazar? O que torna um regime totalitário absurdo? O que mudou em Portugal depois do 25 de Abril? Que aconteceu aos presos políticos depois do 25 de Abril? Se antigamente as pessoas não tinham liberdade para serem felizes, por que não saíam de Portugal?
Não me surpreenderia se muitos pais e professores tivessem dificuldades em responder a algumas destas questões. Foi também a pensar neles que o DVD-ROM foi produzido.

 
 
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Boaventura de Sousa Santos