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16-11-2016        Notícias UC

Por razões que têm a ver com a minha vida académica, há vários anos que me encontro nos Estados Unidos da América por altura das eleições presidenciais. Lembro-me da emoção que foi a eleição de Bill Clinton em 1993, e das desilusões que se seguiram durante os seus dois mandatos. Lembro-me da revolta perante a derrota pouco limpa de Al Gore e a eleição de George W. Bush em 2000, seguida, quatro anos depois, da re-eleição de Bush e da derrota, igualmente pouco limpa, de John Kerry. Lembro-me do entusiasmo contagiante que foi a eleição de Barack Obama, o primeiro presidente negro do país do racismo profundo. Oito anos e muitas frustrações mais tarde, Obama não podia deixar de apoiar a sua ex-ministra. Hillary Clinton perdeu as eleições porque o povo americano, de formas diferentes e por motivos diferentes, se fartou do Sistema e se deixou seduzir pelas grosseiras provocações de um aparente rebelde. Mas, sobretudo, a mulher-candidata perdeu, nesta “América” de brutais contradições, simplesmente por ser mulher.

Não vejo a vitória de Donald Trump como a derrota de Hillary Clinton e do Sistema. Vejo-a antes como o retrato fiel da degradação política, social, económica e moral a que chegou esta nação, com os dois principais partidos a menosprezarem o governo e o serviço público – o republicano a radicalizar-se à direita e o democrático a esquecer a luta de classes. A vitória de Trump, apoiado pelo Ku Klux Klan, foi a vitória da supremacia branca e do racismo; a vitória de Trump, ufano molestador de mulheres, foi a vitória da misoginia e do sexismo; a vitória de Trump, petulante desrespeitador da diferença, foi a vitória da xenofbia, da homofobia e da exploração dos imigrantes  (legais e ilegais); a vitória de Trump, bimilionário e impudente estrela de televisão, foi a vitória do disfarce, da corrupção e da impunidade; a vitória de Trump, autoproclamado homem de negócios bem-sucedido, foi a vitória do capital, do petróleo, do extractivismo, do aquecimento global e das armas; a vitória de Trump foi, numa palavra, a vitória da poluição – em todas as acepções dessa palavra.


 
 
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Maria Irene Ramalho



 
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