Senhor Tavares, faço parte da malta do Centro de Estudos Sociais, um dos desgraçados que investiga nas margens do Mondego. À semelhança de outros colegas estrangeiros, não escolhi o CES por causa dos encantos da cidade dos estudantes nem da orientação política da sua direcção. Escolhi o CES pelo que não encontro na Bélgica: um centro de investigação em ciências sociais e humanas que alia pluridisciplinaridade e qualidade. Não trabalho numa empresa privada, é verdade, não produzo objectos manufacturados, é verdade, não procuro a salvação fora da universidade, é verdade. Procuro um espaço onde a investigação se articula com o mundo que o rodeia, um espaço onde se produz ciência através de uma multiplicidade de suportes e objectos (livros e revistas nacionais e internacionais), um espaço, o da universidade pública, que ainda permite contribuir para a salvação do conjunto no qual se insere: a sociedade portuguesa. Far-se-ia no CES ciência empenhada? Com certeza, Senhor Tavares, pois qualquer cientista ciente do seu papel no social é, necessariamente, empenhado no e pelo mundo. Pena não ter entendido o que significam noções como ciência social crítica ou teoria crítica com ou sem aspas, pois não teria jurado com tanta facilidade na sua crónica. De Berlim até Lisboa, a Europa está repleta de cientistas sociais críticos que investigam segundo as regras da arte, que questionam de maneira rigorosa o mundo que os rodeia, que tentam abrir novos caminhos não só para o progresso da ciência como para a transformação social. Não fique preocupado, Senhor Tavares, com o dinheiro dos seus impostos: está a ser utilizado para entender porque grande parte deste dinheiro não vai para onde deveria.