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19-06-2014        As Beiras

Discordo que o futebol seja sinónimo de alienação das massas. Quando muito é uma “alienação deliberada” que nos ajuda a resistir. Se o Mundial 2014, que ocorre num período tão difícil, nos trouxesse um bom desempenho da seleção isso representaria (e ainda pode representar) uma enorme compensação simbólica do ponto de vista da subjetividade coletiva do povo português. Ora, infelizmente, com o jogo Portugal-Alemanha ocorreu precisamente o contrário. Tudo correu mal. Dir-se-ia que foi a prova provada de que a bruxaria existe mesmo. Jogadores apáticos, expulsões incompreensíveis, lesões terríveis e golos a mais (na nossa baliza). O adversário foi certamente o protegido da bruxa.

É uma redundância afirmar que temos sido maltratados pelos alemães. Na economia, no endividamento, nos juros e na emigração de muitos dos nossos talentos, temos vindo a levar sucessivas “goleadas” da Alemanha. A futebolística foi a última e – ironia das ironias – sendo talvez a menos má, foi a que sentimos com maior violência. Ver a Sra Ângela Merkel aos pulos e de punhos cerrados foi desesperante. Foi “como uma força” (não a da Nelly Furtado, do saudoso Euro 2004), mas uma espécie de força que nos empurrava para o buraco. Talvez a mesma força que tolheu os movimentos dos nossos jogadores, parecida puxar-nos a nós – adeptos da seleção e povo português em geral – para um buraco sem fundo. Só faltou mesmo o Passos Coelho estar ao lado da chefe da Europa a fazer coro com ela. É provável até que, em imaginação, muitos telespetadores o tenham visto abraçado à Chanceler e aos pulos de contentamento (até me pareceu vê-la com uma vassoura na mão, ninguém reparou?!...).

Mas, enfim, o futebol tem esta força incontrolável e que nos envolve numa espiral de fantasia e ilusões, de tristezas que passam rapidamente, e também de alegrias inesperadas, surpreendentes, que são as que sabem melhor. Num minuto se vira um resultado e, num passe de magia, se recupera a autoestima, de um jogador, de uma equipa ou, no caso, de um povo inteiro. Pode durar pouco, mas a vitória é sempre um climax delicioso. E se for contra alguém maior do que nós, melhor ainda. E se, para vingar a derrota aos pés da maior potência europeia, vergássemos a maior potência mundial (EUA), ainda por cima liderada por um alemão? Esperemos que no próximo domingo a fada madrinha destrone a “bruxa-má”!!


 
 
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Elísio Estanque



 
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