Boaventura de Sousa Santos considera que a insatisfação dos militares e dos agentes das forças de segurança mostram que “o pilar da segurança do Estado está em perigo neste momento”. O sociólogo comenta ainda o encontro da Aula Magna, sublinhando que o objetivo era atacar quem está a destruir a Constituição.
Em declarações à Antena1, Boaventura de Sousa Santos afirma que “as políticas de austeridade e de cortes cegos não estão apenas a atacar o Estado social, mas o Estado no seu conjunto” e acrescenta que estão a ser atacadas as instituições que garantem o Direito, a ordem e a estabilidade de um Estado. “Estão num desespero que os leva a manifestarem-se”, refere.
“Na mesma hora em que se estavam a manifestar o general Pinto Ramalho estava a dizer na Aula Magna que as forças militares não estão em condições de assegurar as suas funções constitucionais”, recorda.
Questionado pelo jornalista Nuno Rodrigues se pode ter consequências a invasão da escadaria da Assembleia da República pelos profissionais de segurança durante a manifestação de quinta-feira à noite, Boaventura de Sousa Santos responde positivamente.
“Estamos a entrar num período de turbulência institucional. Milhares e milhares de pessoas têm vindo a manifestar-se ao longo do tempo. Sindicatos, cidadãos, estudantes, desempregados. Essas manifestações põem as nossas instituições sob stresse, e nomeadamente as instituições de segurança, que são aquelas que asseguram que haja um desenrolar pacífico de todas estas manifestações”, observa.
Quando as próprias forças de segurança “se revoltam e o fazem da maneira digna como fizeram ontem significa que estamos a caminhar para um momento de alta perturbação nas nossas instituições e que é extremamente perigoso para a sobrevivência da democracia”, alerta.
Os limites das manifestações são garantidos pelas forças de segurança e “elas estão a dizer ao Governo que se estas políticas continuarem elas provavelmente juntam-se aos manifestantes”.
Em relação ao encontro que decorreu também na quinta-feira à noite na Aula Magna juntando várias figuras da Esquerda à Direita, o sociólogo explica que tem “muito gosto em ter sido um dos promotores da iniciativa”, num dia que marcou um degrau na subida da contestação social em Portugal.
“Temos um Governo completamente autista, que olha para os mercados e não olha para os cidadãos, que está-nos a levar à ruína, porque as políticas de austeridade não funcionam”, argumenta. “As armas de que se falaram [na Aula Magna] são as constitucionais”, pois “estávamos ali para atacar os que estão a destruir a Constituição”, esclarece.