Vem-se assistindo, desde o seu início, a discursos sobre a pandemia que recorrentemente mobilizam palavras como “todos”, “Nós”, “Juntos”, em frases como “o vírus atinge a todos”, o “vírus não escolhe classes sociais”, “estamos todos no mesmo barco” traduzindo uma ideia de uniformização da sua ação e consequências por nos tornar “todos” vulneráveis. Este discurso omite que: a) podemos estar todos no mesmo mar, mas uns em iates e outros sem boia, ou seja, as desigualdades de condições e de oportunidades e as discriminações no momento do contacto com a doença contam; b) embora o contágio possa ser universal, seguindo os passos e rotas dos urbanos globalizados, as suas consequências são particularmente sentidas pelos comuns localizados; c) a Covid-19 escancarou as desigualdades embutidas nas relações, mantendo embora as simplificações das dicotomias local-global, individual-coletivo, privado-público, centro-periferia, norte-sul, entre outras; d) o ónus da pandemia recai sobre as camadas mais pobres de todas as sociedades, e dentro destas, pelas mulheres e meninas, e outros grupos discriminados. A comunicação procura desconstruir estes discursos e apontar caminhos inspirados na filosofia UBUNTU para reinventar a Política, organizar a Economia, e recriar a Vida em Sociedade, respondendo simultaneamente às desigualdades expostas pela pandemia dentro das sociedades, e nas relações entre elas.