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18-09-2019        

Luanda, capital de Angola, tem uma longa história de despejos e deslocalizações de bairros inteiros. Em 1864, um surto de varíola causou um grande número de mortes na cidade. As autoridades coloniais portuguesas usaram essa fatalidade como desculpa para limpar as áreas em que a doença se espalharia mais facilmente. Os despejos tiveram contornos étnicas - afetaram principalmente os musseques, ou bairros informais, onde vivia a maioria dos nativos angolanos. A rejeição sistemática daqueles considerados economicamente fracos havia começado. A partir daí, os musseques têm sido constantemente voláteis, afastando-se progressivamente do centro da cidade. No decorrer  do século 20, apesar dessas ações de “limpeza”, os musseques expandiram-se a cidade adquiriu muitas das características que manteria nas próximas décadas. Na Luanda contemporânea, a vontade de erradicar os bairros informais é mais forte do que nunca. À medida que a cidade se expande, cresce também o número de bairros informais periféricos e campos de reassentamento, correspondentes à remoção da população de uma determinada área. Este texto dedica especial atenção à longa história de despejos de bairros inteiros em Luanda. As deslocalizações urbanas estão geralmente interligadas a ações violentas, inextricavelmente ligadas ao mercado imobiliário em expansão, tanto formal quanto informal. Mas nem todas as pessoas deslocadas são vitimas de políticas urbanas insensíveis; de facto, algumas lucraram com tais tentativas de segregação. Este texto é uma reflexão sobre como a complexidade desses mecanismos de sobrevivência, lucro e poder é mais uma camada na ordem urbana pós-colonial híbrida e diferenciada de Luanda.


The Paradox of Urban Dislocations in Luanda, Angola

Luanda, Angola’s capital, has a long history of evictions and displacements of entire neighbourhoods. In 1864, an outbreak of smallpox caused a great number of deaths in the city. The Portuguese colonial authorities used this fatality as an excuse to clear the areas in which the illness would most easily spread. The evictions had ethnic undertones – they affected mostly the musseques, or informal neighbourhoods, where most native Angolans lived. The systematic rejection of those deemed economically weak had begun. From that point on, the musseques have been constantly volatile, moving progressively further away from the city centre. During the 20th century, despite these ‘clearing’ actions, the musseques were expanding and the city was already acquiring many of the features it would retain in decades to come. In contemporary Luanda, the will for eradicating the informal neighbourhoods is stronger than ever. As the expansion of the city continues, the formation of peripheral informal neighbourhoods and resettlement camps correspond with the removal of the population from a particular area. This paper pays special attention to Luanda’s long history of evictions of entire neighbourhoods. Urban dislocations are often interlinked with violent actions, inextricably connected to the booming real estate market, both formal and informal. But not all of the displaced people have been victimised by insensitive urban policies; indeed, some have profited from such attempts at segregation. This paper will reflect on how the complexity of these mechanisms of survival, profit and power is yet another layer in Luanda’s hybrid, nuanced postcolonial urban order.

 
 
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