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19-02-2017        Jornal de Notícias

Neste Portugal que continua com grandes problemas económicos e financeiros por resolver e onde as pessoas se debatem ainda com elevado desemprego, muito emprego sem qualidade e sem dignidade, baixos rendimentos, pobreza e desigualdades gritantes, é preocupante constatar-se que o programa político da Direita é hoje quase só hipocrisia e berraria.

Bastou o atual governo ir dando pequenos passos positivos a favor do país e das pessoas, para ficar a nu o total vazio dos programas do PSD e do CDS. A Direita, tão experimentada no argumento “não há alternativa”, desespera-se quando se lhes dirige a pergunta “qual é a vossa alternativa”? Mais austeridade para reduzir o défice? Para quê se o défice baixou. Mais desvalorização dos salários para estimular as exportações? Para quê se as exportações até estão a aumentar. Menos impostos sobre as empresas para atrair investimento? Para quê se o investimento privado até está a recuperar.

A dívida é enorme. Pois é. Mas, qual é mesmo a alternativa que os partidos de direita apresentam? A resposta é, nada! Resta-lhes fingir protestos por os serviços públicos, por eles esvaziados de pessoas e de meios, terem problemas; por o investimento público, por eles combatido como despesismo, ser diminuto. Resta-lhes, acima de tudo, bombardear os tímpanos dos portugueses com uma berraria ensurdecedora, própria das redes sociais, a propósito de promessas, faltas à verdade e sei lá que mais.

É um facto que António Domingues queria ser Presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) sem ter de disponibilizar as suas declarações de IRS, que o Ministro Mário Centeno (e não só) até se predispôs a ajuda-lo nesse objetivo; mas também é claro que este jamais podia assumir esse compromisso porque não dependia dele e, felizmente, os órgãos de soberania e o Tribunal Constitucional, quando tiveram de se pronunciar não titubearam, foram claros.

Os portugueses que não desligam a televisão e a rádio assistem, por certo assustados, ao espetáculo de dirigentes políticos – cheios de mentir ao povo e de fugirem à verdade em múltiplas situações – a mostrarem uma face feia e agressiva, destruindo-se a si mesmos. É-lhes indiferente poderem estar a causar graves danos ao país.

Num momento em que é indispensável uma profunda reconfiguração do sistema bancário em Portugal, urge encetar uma discussão política rigorosa sobre a banca, em vez da atual berraria a propósito de SMSs trocados entre ministro e banqueiro. Os problemas que continuam a pairar sobre este sector em Portugal e no resto da Europa, o modelo de supervisão e regulação bancária imposto pelo Banco Central Europeu, ou os riscos de uma banca privada dominada pelo capital estrangeiro – a história mostra-nos que, em tempos de crise, este é o primeiro a “abandonar o barco”, agravando as dificuldades – são temas centrais para qualquer discussão séria sobre o futuro do país, da sua economia e do emprego. O debate político precisa de ser ainda mais qualitativo, quando se trata de discutir o futuro do único banco público e de raiz nacional, a Caixa Geral de Depósitos.

A CGD deve ser entendida, não como mero estabilizador do sistema financeiro nacional, como aconteceu desde 2008, mas sim como um instrumento de política económica, sobretudo neste contexto em que as mãos do Estado parecem atadas por Bruxelas. O debate sobre qual o modelo de negócio que deve reger a CGD na forma como afeta crédito na economia é mais importante do que nunca. Além disso, é preciso assegurar que a CGD não voltará a sustentar negócios desastrosos ou processos de enriquecimento de vigaristas e oportunistas. É preciso um banco público que não cobre comissões abusivas, que tenha presença territorial e proximidade dos cidadãos, gerando-lhes confiança.

Chega de entreter os portugueses com a vacuidade reinante no discurso político à direita, órfã de um diabo que teima em não aparecer e com instintos revanchistas cada vez mais arreigados. A azia e a sede de vingança da Direita vão perdurar e são perigosas. É preciso dar-lhe uma longa cura de oposição, sob pena de os portugueses poderem ser sujeitos a fortes castigos.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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