O poder dos muito ricos tornou-se pornográfico e perigosíssimo. Elon Musk, considerado o ser humano mais rico do Mundo, possui uma riqueza avaliada em cerca de 300 mil milhões de dólares e tem imenso poder nos setores financeiro, das energias, da neurotecnologia, da comunicação, da exploração espacial e da defesa. Construiu esse império, muito a partir de negócios com o Estado e tendo este como alavanca para a expansão da sua influência à escala global.
Com os poderes adquiridos domina aparelhos de manipulação da realidade em vários campos, num quadro em que a mentira se embrenha na sociedade.
Musk e Vivek Ramaswamy (outro bilionário), que Trump classifica como “dois maravilhosos americanos”, vão dirigir o novo “Departamento para a Eficiência Governamental”. O poder de Musk já é hoje incomparavelmente maior que o do maior oligarca alguma vez existente, em qualquer regime e latitude. Agora é-lhe entregue a tarefa de “desmantelar a burocracia governamental”, cortar o “excesso de regulamentação” e as “despesas supérfluas” e, ainda, reestruturar agências federais por forma a dar absoluta “liberdade” aos negócios.
Num momento de campanha, Musk disse que conseguiria reduzir, pelo menos, dois triliões aos 6,5 triliões de dólares de orçamento federal, ou seja, cerca de um terço do Orçamento do Estado. Isto significa que os grandes bilionários vão tentar ampliar imenso as suas agendas de negócios em atividades carregadas de poder que condiciona as decisões políticas nas mais diversas áreas. Assim “eliminarão” o conflito entre os interesses privados e o interesse público. No final, o peso e a eficácia do Estado não terão melhorado, como está demonstrado com todas as aventuras ultraliberais. O povo continuará de bolsos vazios, mas mais subjugado aos interesses dos poucos muito, muito ricos.
Estima-se que a “doação” de Musk para a campanha de Trump se tenha cifrado em 132 milhões de dólares. De facto, não se tratou de doação, foi sim um eficaz investimento. Só na segunda-feira após às eleições, Musk arrecadou 21 mil milhões de dólares por valorização de ativos financeiros, apenas da Tesla. Que Mundo é este em que um terço da população mundial vive com menos de dois dólares por dia, e uma pessoa, somente pela valorização bolsista de uma das suas empresas ganha, num dia, 21 mil milhões de dólares?
Enquanto isto se passa nos Estados Unidos da América, a grande potência mundial a que parte dos europeus atribuíram a tarefa de “guardião da civilização ocidental”, os líderes da União Europeia parecem baratas tontas atolados em contradições sobre o rumo da economia, das políticas sociais, das relações no novo quadro geopolítico. E afundam-se na obsessão de chegar à segurança pela guerra.
Contudo, há sinais de esperança. O primeiro é o facto de, na Europa, termos duas gerações jovens que amam a paz e não se disponibilizam a ser carne para canhão.