O ativista guineense Sumaila Djaló defendeu que o PAIGC deve dar a cara nas manifestações que convoca para contestar o "regime ditatorial" do Presidente guineense, porque uma mobilização popular sem liderança nunca vai funcionar.
Em declarações à agência Lusa, o ativista referiu que a coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI -- Terra Ranka), liderada pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), deve convocar estas manifestações com "consistência e com convicção", sob pena de se "tornar cúmplice" do regime, uma vez que tem "uma maioria absoluta atribuída pelo povo" nas legislativas de 04 de junho de 2023.
"É impossível uma manifestação popular funcionar sem orientação", disse, defendendo que "quando houver liderança, quando houver orientação e organização da massa popular, a ditadura cede" e será "a única via" para "contornar a situação".
A coligação já tentou realizar duas manifestações em Bissau, em 08 e 18 de janeiro, mas alegou que foram frustradas porque a polícia terá feito cordões nos bairros para impedir as pessoas de participarem.
Sumaila Djaló, que é doutorando no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, considerou ainda que a coligação cometeu "um erro gravíssimo" ao ter convidado para a sua governação formações como o Partido da Renovação Social (PRS) ou o Partido dos Trabalhadores Guineenses (PTG), "integrando elementos que foram sancionados nas urnas" e que, "ao longo de todos estes anos, oprimiram o povo".
A crise política na Guiné-Bissau espoletou-se depois de o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, ter decretado a dissolução do parlamento antes do prazo de 12 meses para o poder fazer, tal como estipula a Constituição.
O chefe de Estado considera o parlamento guineense foco de instabilidade no país.
Em seguida, o Presidente demitiu o primeiro-ministro, Geraldo Martins, depois de este recusar formar um Governo de iniciativa presidencial, e nomeou, em substituição, Rui Duarte de Barros, episódios de uma crise que começou a ser desenhada na sequência de confrontos entre militares, nos passados dias 30 de novembro e 01 de dezembro.
Sissoco Embaló classificou esses incidentes de tentativa de golpe de Estado.
Questionado sobre a atuação do novo Governo, que proibiu a realização de manifestações, o ativista referiu que se trata da "continuidade da instituição de um regime ditatorial, absolutista e autoritário por parte de Umaro Sissoco Embaló e da sua família política".
"O que temos vindo a ver na Guiné-Bissau tem sido a coartação de todas as liberdades democráticas, impedimento de manifestações, perseguições políticas aos adversários do Presidente da República, raptos e espancamentos de pessoas que não se alinham com a sua ditadura, com o seu regime autoritário", acrescentou.
Sumaila Djaló lamentou a passividade da comunidade internacional face à situação que se vive na Guiné-Bissau, em particular de Portugal, "que através do seu Presidente, professor Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa, têm apoiado o Presidente da Guiné-Bissau".
O ativista criticou a posição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), cuja presidência rotativa foi assumida pelo Presidente guineense entre julho de 2022 e julho de 2023.
"Como é que um ditador, um Presidente autoritário, é convidado, escolhido entre pares para dirigir uma instituição que diz defender valores da democracia e de liberdade", questionou, considerando que isto revela também "a crise em que se encontra a CEDEAO e a sua inutilidade para resolver os problemas crónicos da sub-região e para a democratização em todos os Estados-membros".
Sumaila Djaló referiu-se ainda ao silêncio da União Africana e das Nações Unidas, "que têm assumido posições dúbias e menos claras", face à "não-existência de um decreto presidencial", por não estar previsto na Constituição, que "dissolve a Assembleia e coloca em causa a escolha democrática do povo".
"As posições têm de ser inequívocas na condenação e no apelo ao retorno à ordem constitucional e democrática" e isso "não tem acontecido", disse.