E se a história da Revolução dos Cravos for mentira? Do “dia inicial inteiro e limpo”, que escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen;, da festa “bonita, pá”, que canta Chico Buarque; do golpe sem sangue que contam os livros de história. E se tudo isso for mentira? Uma alucinação coletiva, uma ficção contada tantas vezes e de tantas formas que engoliu outras verdades.
Em 1971, Amílcar Cabral, fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e um dos principais líderes independentistas africanos, dizia, em entrevista às revistas Anticolonialismo e Polémica: “Estamos absolutamente convencidos de que, na medida em que os povos das colónias portuguesas avancem com a sua luta e se libertem totalmente de dominação colonial portuguesa, estarão contribuindo de uma maneira muito eficaz para a liquidação do regime fascista em Portugal”.
Cabral não ficou para ver o culminar da sua luta — foi assassinado em janeiro de 1973 —, mas há quem, há décadas, defenda que foi nas ex-colónias que se fez o 25 de Abril; que foi na derrota portuguesa nas guerras de libertação nacional que nasceu a Revolução; que foi das dezenas de milhares de mortes da Guerra que se derrubou o regime; que Portugal não descolonizou mas foi, sim, obrigado a abandonar o Império.
Hoje, publicamos uma entrevista especial sobre o 25 de Abril, com a investigadora e historiadora moçambicana Maria Paula Meneses, coordenadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, onde é também vice-presidente do Conselho Científico. Falámos sobre o papel dos movimentos africanos de libertação na Revolução Portuguesa, a ligação entre elas, a Guerra Fria e a Revolução Cubana e a descolonização que, acredita, está por cumprir.