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15-12-2023        Podcast

Os fantasmas do colonialismo, feitos memória e pós-memória, estão no centro dos debates sobre a nova identidade francesa no pós-descolonização. Uma França onde, com o fim do império e os fluxos populacionais que ele trouxe, os franceses e as francesas são também pieds-noirs – o equivalente dos retornados portugueses; harkis – que combateram com o exército colonial francês na Argélia; antigos combatentes; franco-argelinos cujos pais migraram para França antes e depois da independência; e descendentes de todos estes grupos. A França contemporânea é este caldeirão de pessoas diversas, com vivências e memórias muito diferentes do antigo império. No entanto, têm uma herança comum: testemunharam como as suas vidas – e as dos seus pais – foram afetadas por um momento histórico extremamente significativo, uma revolução que trouxe mudanças marcantes para as suas vidas, para a configuração dos seus países e para as suas identidades. Isso gerou uma variedade de narrativas de que ouviremos exemplos nos próximos episódios e que, de alguma forma, constroem uma história outra de França e da Argélia, a partir dos espectros familiares dos seus pais e avós.

Os argelinos, franco-argelinos e seus descendentes reivindicam hoje espaço para narrativas que efetivamente contem as suas histórias, contornando as lacunas, os silêncios e as divergências das memórias não-contadas dos seus pais, mães, tios e avós. Mas, sobretudo, ambicionam construir narrativas que preencham as lacunas, os silêncios e as divergências presentes na narrativa oficial do Estado francês, em particular no que diz respeito à guerra da independência da Argélia. Durante largas décadas, assim o conta Graça dos Santos no podcast de hoje, o Estado francês recusou-se a nomear explicitamente o evento, e isso, diz-nos, é sintomático de um mal-estar latente.

A realização é de Inês Nascimento Rodrigues, a edição de som de José Gomes e a imagem gráfica de Márcio de Carvalho. Indicativo: voz de Rui Cruzeiro e música original da autoria de XEXA.


Algumas sugestões de leitura:

Santos, Graça dos (2021), “Colonialismo, migrações e identidades pós-coloniais: um passado / presente francês”, in António Sousa Ribeiro (org.), A cena da pós-memória. O presente do passado na Europa pós-colonial. Porto: Afrontamento, 97-113.

Brahim, Rachida (2020), “Morrer por ser. O racismo estrutural na França Contemporânea”, Memoirs newsletter, 84.

Ribeiro, Margarida Calafate (2020), "A marcha obscura da história: a França em questão ou o fim da liberdade como boa consciência", Iberografias: Revista de Estudos Ibéricos, 16, 389-398.

Delauney, Morgaine (2019), “O Estado francês e o Estado português perante a chegada dos pieds-noirs e dos retornados”, Memoirs newsletter, 81.

Vilar, Fernanda (2019), “Silêncios que viram arte”, Memoirs newsletter, 55.


Nota biográfica:

Graça dos Santos está radicada em França desde há mais de três décadas, onde chegou com apenas oito anos. É professora associada na Universidade Paris Ouest Nanterre La Défense, onde é diretora do Departamento de Estudos Lusófonos. Encenadora, atriz e professora de teatro, escreve sobre as noções de corpo físico/corpo social e sobre as representações cénicas do corpo e do povo. Cofundadora da companhia “Cá e Lá” (Compagnie bilingue français/portugais) tem desenvolvido um trabalho específico sobre o ator bilingue e sobre as conexões entre teatro e ensino das línguas. Faz parte da equipa do MAPS.




 
 
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