Do ponto de vista estritamente geométrico, a periferia é o ponto mais afastado do centro. A persistência da representação da cidade como um círculo, um sistema fechado, com um centro, uma forma e uns limites bem definidos, criou uma inércia em torno de um imaginário urbano (que a cidade preenchia em exclusivo) pensado com base em duas categorias: o centro e a periferia. Cedric Price chamaria “ovo estrelado”, The City as an Egg (1982), a este ideal-tipo. A periferia corresponderia então a um duplo afastamento do centro: um afastamento físico e um afastamento social. No centro estaria a maior parte do emprego e das funções portadoras de maior poder de polarização e de fixação de emprego. A periferia seria o lugar da residência dos mais pobres, daqueles que não tinham como aceder às condições de habitação das áreas mais centrais. Os movimentos pendulares diários seriam uma das expressões deste modelo dual. O conceito de Área Metropolitana é o que se ajusta melhor a este imaginário, mas o contraste acentuado que hoje se pode verificar na urbanização global, particularmente no Grande Sul, desmente a universalidade do conceito. Entretanto, ainda com a metáfora dos ovos, o próprio C. Price falaria de “ovos mexidos” para representar a forma urbana contemporânea. Diferentemente da cidade – uma palavra que de tão polissémica, acaba por ter sentidos cada vez mais vagos -, a urbanização é um processo que toma forma e lugar nas mais diferentes circunstâncias e contextos. Centros – ou centralidades, como se diz mais frequentemente – e periferias correspondem assim a coisas muito diversas. Logo veremos o que são.