Inúmeros estudos sobre a autoconstrução nas periferias das principais metrópoles brasileiras têm sido realizados nas últimas décadas, assim como alguns programas de urbanização foram implantados em áreas que reúnem favelas, loteamentos irregulares e clandestinos. No caso particular das áreas de favelas, é possível perceber que nesses assentamentos são revelados capítulos históricos da disputa e apropriação desigual da terra urbana, resultantes, entre vários aspectos, das disfunções sociais e espaciais acumuladas em diferentes marcos temporais. Esse processo secular resultou em configurações espaciais excludentes e impôs limitações de oportunidades às populações de baixa renda. Nos dias atuais, o acumular dos desequilíbrios sobre o espaço urbano brasileiro permite verificar, por exemplo, a precariedade das habitações, o défice de bens e serviços básicos e os impasses quanto à legalização fundiária. Interessa aqui enfatizar as discussões contemporâneas em torno dos aspectos geográficos e socioculturais que redirecionam as análises e a compreensão da “nova face” das favelas e que, ao mesmo tempo, induzem a novos procedimentos técnicos para esse tipo de urbanização. Parte-se do pressuposto de que esses ambientes, cujos resultados decorreram de uma ação humana para encontrar alternativas de moradia no espaço da cidade, em geral em locais ambientalmente fragilizados, têm hoje uma paisagem urbana e social que fixou bens materiais e imateriais. Neste sentido, a paisagem da favela está relacionada ao permanente processo de construção e transformação físico-espacial que move as relações entre objeto e sujeito, podendo ser compreendida como reflexo e condicionante das práticas sociais na formação das territorialidades, como sublinhava o geógrafo Milton Santos (1986). As favelas constroem espaços de sociabilidade que permitem identificar uma paisagem complexa e multifacetada repleta de fragmentos e contradições. Identifica-se, pois, as formas visíveis desse universo particular a partir dos elementos que o compõem e estruturam espacialmente esse tipo de periferia, em uma articulação entre unidade, coerência ou concepção racional do meio ambiente e na ideia de intervenção humana que, de acordo com Denis Cosgrove (1998), responde ao controle das forças que (re)modelam o espaço físico e social.