A partir da prática docente na rede pública de ensino básico, na periferia de Londrina, Paraná, entre 2004 e 2017, objetiva-se apresentar algumas possibilidades e limitações da ação pedagógica, determinada pelas condições estruturantes que o campo educacional revela aos agentes que nele atuam e que dele fazem parte. Há dois aspectos para destacar:
1. As relações que os docentes estabelecem com a comunidade escolar e as formas surpreendentes que a desigualdade de poder dessas relações delimitam para o campo da educação.
2. As chances de aprendizagem, construção de liberdade e autonomia, viabilizadas ou não, pelo envolvimento afetivo dos alunos com os docentes, bem como a motivação politicamente situada de contrução de conhecimentos sobre o mundo e sobre si, como alguém que reconhece sua condição econômica, geográfica e cultural, em um contexto mais amplo do espaço urbano no qual sua comunidade localiza-se.
As bases culturais, burocráticas e comportamentais nais quais esses dois eixos se sustentam, entrelaçam-se pelo conceito de “experiência”, como formulou E. P. Thompson, na medida em que cada indivíduo atribui, a princípio, os significados de sua existência segundo os próprios termos em que sua biografia é construída. Nesse contexto, identifico traços relevantes que podem formar um padrão social do campo educacional na periferia: a) o medo; b) a precarização; c) a ambiguidade da noção de “lugar de fala”; d) a dinâmica e rotina do trabalho docente; e) o neopentecostalismo; f) o conservadorismo; g) a indisciplina como habitus adquirido.
Minha hipótese é que esse conjunto de características delimita a escola como instituição distante da crítica da “escola sem partido”, e a distancia, igualmente, de práticas pedagógicas freirianas. Pelas condições objetivas e subjetivas das escolas de periferia nas quais trabalhei, reconhecer uma realidade de profunda romantização do ambiente educativo pode ser um dos passos iniciais para a promoção de condutas pedagógicas alternativas, sugeridas no eixo 2.