O seminário intitulado “O que diz o corpo quando a boca cala? O conhecimento baseado na experiência entre arquivo(s) e reportório(s)”, da autoria de João Arriscado Nunes, insere-se no V ciclo de seminários "Ciências Sociais e Saúde", coordenado por Ana Raquel Matos, Joana Sousa Ribeiro e Mauro Serapioni, o qual visa apresentar e discutir temas e questões de relevância para a compreensão do atual estado da relação entre saúde e sociedade. Neste seminário, o tema em debate partiu do termo “conhecimento baseado na experiência”, usado nos estudos sociais da medicina e da saúde para abordar os diferentes modos de dar conta da experiência da doença, de distúrbios e sofrimentos, do cuidar e de práticas de cura e terapias geralmente descritas como complementares,  alternativas, tradicionais ou populares, e dos modos como se relacionam com os conhecimentos e práticas “certificados” da (bio)medicina, da enfermagem, da saúde pública e da saúde mental. Em estudos recentes realizados com associações de doentes, o conhecimento baseado na experiência aparece como um conceito central para lidar com as configurações específicas de saberes e práticas associadas ao ativismo terapêutico. A diversidade de formas de expressão, vocabulários, práticas e contextos envolvidos, porém, sugere a necessidade de explorar de modo mais próximo e rigoroso aquilo que designo, seguindo Diana Taylor, por reportórios do conhecimento baseado na experiência, e a suas relações com os arquivos constituídos por inscrições que caracterizam os saberes objetivados e partilháveis da medicina e dos saberes que por ela são legitimados. Essa exploração envolve a) a clarificação do que significa “experiência” e “conhecimento”; b) o lugar do corpo, enquanto “soma” ou corpo vivido na construção da experiência e do conhecimento; c) os lugares e processos de produção/criação e partilha dos conhecimentos enquanto reportórios.  A discussão apoia-se em investigação realizada na Europa e no Brasil, incluindo a produção de narrativas de experiência de doença crónica, infeciosa e ambiental e as práticas expressivas-criativas no campo da saúde mental e entre populações expostas a condições precárias de vida, a diferentes formas de violência e a eventos extremos.