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12-07-2025        Jornal de Notícias

Num excelente artigo publicado dia 10 no “El País”, Lula da Silva escreveu: “Não existem muros suficientemente altos que permitam preservar ilhas de paz e prosperidade rodeadas de violência e miséria”. A negação deste facto evidencia-se todos os dias, de forma gritante, num mundo em que, como diz Lula, “o estrangulamento da capacidade de ação do Estado” – resultante da apropriação dos seus instrumentos e meios por parte de poderes privados dispensados de obrigações éticas e legais - “conduziu ao descrédito das instituições” e gerou “a insatisfação convertida no terreno fértil” de promoção do “ódio como projeto político”.

No plano nacional, os últimos dias mostraram-nos o chorrilho de mentiras que suportou a colocação da alteração à Lei da Nacionalidade como urgência política, e o potencial de ódio que tal manobra arrasta. Na Saúde, vimos uma ministra incapaz de assumir responsabilidade perante a violência a que as grávidas (e familiares) são sujeitas, quando não sabem onde podem ser acolhidas. E, também, os medos dos cidadãos acometidos de acidentes graves (de vário tipo), por poderem chegar ao hospital fora de tempo útil.

O acompanhamento de um utente ou doente num mesmo estabelecimento é um enorme ganho. Uma pessoa ter que se deslocar a quatro ou cinco hospitais para resolver um mesmo problema é uma aberração e aumenta riscos: mas esta é a modernidade que o Governo desencantou.

Milhares de cidadãos, ao não disporem de resposta no SNS, duplicam gastos, contratualizando seguros e serviços privados. Chega de sonsices e mentiras. Está em curso um programa de aniquilamento do SNS a partir de alteração de estruturas e funções, por retirada de capacidades, pela entrega da capoeira à guarda da raposa. O aniquilamento do SNS ampliará ódios e pode ser trampolim para alcandorar a extrema-direita ao poder.

No plano europeu, prossegue uma gestão política caótica. A convergência com o “trampismo” avança no plano prático - os discursos são mero entretenimento. Cresce a pregação da guerra dos “bons contra os maus”, a aceitação da fatura que os Estados Unidos da América nos destinam, a ausência de princípios nas relações internacionais.

O presidente do Brasil, numa perspetiva reformista, escreve naquele artigo, que 2025 “corre o risco de passar à história como o ano em que colapsou a ordem internacional construída a partir de 1945”. Uma ordem muito favorável ao “Ocidente” a necessitar de reformulação para considerar os direitos dos “outros”. Mas o “Ocidente civilizado” preferiu seguir o caminho das guerras punitivas, da lei do mais forte, de práticas neocoloniais, da instabilização das relações comerciais, da negação do direito à diferença, da sujeição das pessoas a todo o tipo de sacrifícios para aceder ao trabalho.

O direito a trabalho digno e o acesso a direitos sociais são áreas para as quais o liberalismo económico e os ultraconservadores não dispõem de respostas positivas.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva