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17-05-2025        Jornal de Notícias

A reflexão faz sempre bem, mais ainda quando precisamos de agir em contextos difíceis. Amanhã é dia de dar seiva à democracia. Em primeiro lugar, votando livremente, mas também reforçando compromissos com nós próprios no sentido de sermos cidadãos ativos no exercício dos nossos direitos e na assunção dos nossos deveres. O primeiro dos nossos deveres é termos consciência daquilo a que temos direito e agir, individual e coletivamente, na sua conquista e defesa.

A atmosfera belicista em que vivemos é inimiga do bem comum e pode “justificar” o aniquilamento dos nossos direitos sociais, culturais, cívicos e políticos. A guerra na Ucrânia significa muito mais que aquela guerra em si mesma, apesar de ser pesada em termos de mortes, de sofrimento humano, de perdas materiais, culturais e outras. Ali, pode instalar-se um foco de gestação de conflitos na Europa e em outras latitudes. E, esta guerra é “apenas” uma das muitas que proliferam pelo Mundo, tendo como expressão maior de violência, de hipocrisia e de desumanidade os massacres e o genocídio que vêm sendo praticados por Israel sobre o povo palestiniano.

Precisamos de mobilização dos povos na denúncia dos horrores da guerra, das suas causas e de processos que lhe são intrínsecos, entre os quais estão as guerras comerciais, combustível que incendeia ódios e intensifica a exploração humana. É preciso lutar pela paz e defender políticas de cooperação efetiva entre países e povos, respeitando reciprocamente as suas culturas. Há instituições do sistema económico em que vivemos que projetam a posição relativa dos países a partir dos seus PIB, para o ano 2050, e concluem que nessa altura os Estados Unidos da América estarão em terceiro lugar, sendo que nos dez primeiros não estará nenhum país europeu. As grandes placas tectónicas da geopolítica e da geoestratégia movem-se com imensa novidade.

Vamos acertar contornos de uma nova ordem mundial à lei da bala, da utilização de tecnologia sofisticada – desde drones a armas nucleares – para matar os seres humanos inimigos, convencidos de que nós nos salvaremos num qualquer bunker, com kits individuais de sobrevivência? A Alemanha anunciou esta semana que avançará com 5% do PIB para se armar. Onde, quando e contra quem serão utilizadas estas armas? O quadro de alianças está em acelerada mutação. Há inimigos de hoje que serão aliados amanhã e vice-versa. Portugal irá pelo mesmo caminho? A Europa vai (re)industrializar-se a partir da indústria bélica e matando o Estado social?

Não haverá democracia sem salários dignos e estabilidade no trabalho, sem valorização das profissões e qualificações, sem direitos sindicais, sem escola pública de qualidade. Não haverá democracia sem um bom Serviço Nacional de Saúde e um Sistema de Segurança Social Público, Universal e Solidário, ou sem acesso a habitação digna. Reflitamos.


 
 
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Manuel Carvalho da Silva



 
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